Da desinformação à conciliação agroalimentar

Como um povo de brandos costumes, talvez seja melhor encararmos este desafio sem pressa, mas também sem se perder tempo

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Mais do que a maioria das pessoas possam pensar, o setor agroalimentar é fundamental, em Portugal e no mundo, para o equilíbrio da sociedade, da economia, do ambiente, da saúde e do bem-estar de cada indivíduo. Basta constatar que o setor contribui significativamente para o PIB, o emprego, as exportações e as importações do país, para além da relação direta que tem com os hábitos de produção e consumo e até com a fixação da população.

Nos últimos anos, o setor agroalimentar teve uma evolução apreciável, principalmente por se preocupar mais com a adaptação, inovação e notoriedade dos produtos. Ainda assim, há muito por fazer, como denunciar e demonstrar cabalmente as más práticas que ocorrem da produção ao consumo, mobilizando a população em prol da naturalidade e autenticidade agroalimentar.

Por outro lado, é preciso educar os decisores, as cooperativas, as empresas, as indústrias, o mercado e as famílias para a valorização da qualidade intrínseca das matérias-primas e para a simbiose entre o meio urbano e o meio rural. Estes fatores de diferenciação defendem os empresários agrícolas da feroz competição internacional das economias de escala, protegem os solos e a biodiversidade, promovem o consumo de proximidade e favorecem a alimentação saudável.

Acontece que, nestes tempos de imediatez, a informação é proporcional à desinformação que prolifera nas redes sociais, na publicidade, nos media e de pessoa em pessoa. Existem conteúdos tão superficiais, frívolos, confusos e enganosos, que toldam o discernimento de milhões de consumidores. E se os consumidores desconhecem o que compram, os produtores cedem às marés do mercado. O "mass market" aciona e pressiona a "mass production", por isso, enquanto não houver informação e reflexão no consumo, a produção será vergada aos interesses economicistas, causando desequilíbrios também na distribuição, na alimentação das populações e na saúde.

Ora, não seria desejável replicar as histórias dos produtores que preservam a biodiversidade dos solos e não aceleram a produção? Que não usam indiscriminadamente glifosatos e outros químicos tóxicos? Que não vêm as suas margens esmagadas? E também as histórias de consumidores que procuram o consumo de proximidade? Que se interessam pela qualidade e rastreabilidade das matérias-primas? Este percurso fadado para a sustentabilidade das gerações vindouras e do planeta está bem patente, por exemplo, no livro Os Trilhos do Marketing Agroalimentar.

Como um povo de brandos costumes, talvez seja melhor encararmos este desafio sem pressa, mas também sem se perder tempo. A cooperação, a integração e o envolvimento emocional serão os alicerces da mudança, sempre apoiados em estratégias de "marketing" e comunicação verdadeiras, autênticas e fieis aos valores biodinâmicos.

Como sementes da mudança, construamos um novo futuro sustentado na responsabilidade social e ambiental. Se ontem fomos iludidos, hoje já podemos compreender a utopia agroalimentar para que, amanhã, essa utopia deixe de o ser e se torne realidade. Escrito assim, até parece fácil.

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