A importância das autárquicas

A ‘generosidade’ do PS não é por acaso e o périplo de Passos também não

Ao contrário do que tantas vezes querem fazer crer, os partidos estão muito preocupados com as autárquicas. Por razões diversas, é certo, mas as movimentações mais ou menos visíveis das lideranças não iludem a sensibilidade do momento em que se realizará esse sufrágio, sendo que algumas até já antecipam as eventuais dificuldades que os resultados poderão provocar. O facto de o PS e o PCP terem um “pacto de não-agressão” em matéria de candidaturas autárquicas é um dado relevante nesta equação, não tanto por, de momento, os socialistas recearem perder muitas câmaras para o seu parceiro de coligação informal, mas sobretudo pelos efeitos devastadores que uma competição entre os dois poderia ter na estabilidade no Governo. Os comunistas são, tradicionalmente, a terceira força no poder local e nas eleições de 2013 até ganharam seis câmaras, ficando com um total de 34. Depois do balde de água fria nas últimas legislativas, em que ficaram atrás do BE, qualquer hipótese de diminuírem agora a sua expressão eleitoral seria confirmar um declínio que alguns, de forma algo apressada, chegaram a vaticinar. Ora se há coisa que o PS não deseja, é alimentar o crescimento exponencial dos bloquistas, que em grande medida é feito à custa da transferência do seu próprio eleitorado. Daí esta súbita generosidade dos socialistas para com o PCP, que têm a seu favor o facto de o BE não ser um partido autárquico (perdeu a única câmara há quatro anos) e não contar para este campeonato.

Quanto à direita, o processo ainda é incipiente, mas Passos Coelho iniciou a semana passada um périplo pelo país, cujo objectivo é começar a mobilizar as hostes e explicar o que está a fazer. Curiosamente, baixou a fasquia do PSD, pois já não diz que o objectivo é vencer as autárquicas e conquistar a Associação Nacional de Municípios, como afirmou no congresso, e vai dando a ideia de que não tenciona demitir-se seja qual for o resultado. É Passos a tentar travar os descontentes.

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