Justiça argentina condena ex-ditadores e militares pela Operação Condor

Julgamento concluiu que plano das ditaduras da América do Sul na década de 1970 para matar opositores foi "conspiração criminosa".

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Reynaldo Bignone, o último ditador da Argentina, foi condenado a 20 anos de prisão Enrique Marcarian/REUTERS

A justiça argentina condenou 15 antigos militares, entre os quais um ex-ditador, pela sua participação na Operação Condor, uma operação conjunta das ditaduras sul-americanas dos anos 1970 para eliminar os opositores políticos.

Reynaldo Bignone, de 88 anos, o último líder da junta militar argentina (1982-1983), foi condenado a 20 anos de prisão. Entre as 16 outras pessoas que estavam a ser julgadas, 14 tiveram penas de prisão entre oito e 25 anos e duas foram consideradas inocentes.

A Operação Condor foi coordenada pelas ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai. Os Estados Unidos conheciam o plano, e não se opunham a ele – consideravam estes regimes uma barreira contra o avanço do comunismo, no contexto da Guerra-Fria.

Centenas de ex-militares envolvidos neste plano foram julgados durante a última década na Argentina, o único destes países a ter feito uma espécie de julgamentos de Nuremberga sobre a ditadura. Mas o processo que se concluiu na sexta-feira foi o primeiro consagrado ao plano Condor enquanto organização criminosa, ainda que vários militares tenham já sido condenados.

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Familiares de vítimas da Operação Condor no Paraguai na embaixada da Argentina em Asunción NORBERTO DUARTE/AFP

A sentença cita o desaparecimento de 105 pessoas, a maior parte das quais (45) uruguaios. “Ficou determinado que o terrorismo de Estado na Argentina foi uma conspiração criminosa, que foi coordenada com outras ditaduras”, explicou Luz Palmas Zaldua, advogada do Centro de Estudos Legais e Sociais, que representou muitos dos queixosos, citada pela Reuters. “Juntaram-se para maximizar esforços para perseguir opositores políticos de cada uma das ditaduras, e para fazer ‘desaparecer’ ou eliminar os que eram considerados ‘subversivos’”, numa operação coordenada a partir de Santiago do Chile.

“Este processo serve de exemplo. A Argentina mostra que é possível” julgar os responsáveis de uma ditadura, afirmou à AFP Nora Cortinas, uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, organização emblemática da luta contra a junta militar.

“Isto é o que nós queríamos, que a justiça demonstrasse que o Plano Condor foi uma organização criminosa”, declarou por sua vez Anatole Larrabeiti, cujos pais, uruguaios, fizeram parte das vítimas desta conspiração das ditaduras sul-americanas.

Para chegar a esta sentença, os magistrados usaram os chamados Arquivos do Terror, descobertos no Paraguai na década de 1990, e em documentos desclassificados pelos Estados Unidos.

 

 

 

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