Sao Miguel: João Moniz, da construção civil à escultura

À vila da Povoação, no sudeste de São Miguel, aportaram os primeiros povoadores da ilha. Quase seis séculos depois, aportou aqui também João Moniz, vindo de bem mais perto, da vizinha Ponta Garça, que encontramos ao lado do porto, num pontão que termina com a visão de uma âncora e uma hélice de um cargueiro que aqui encalhou em 1977.

Estão dispostos quase como esculturas e é também escultura que João Moniz, auto-didacta, faz, desde os 13 anos (agora tem 29). Vemo-lo ao lado da sua obra mais recente. É um homem a disparar um canhão, como aqueles que ainda se lembra de ter visto por ali, pertencentes ao já desaparecido forte de Povoação, muito assolada pela pirataria como toda a costa sul da ilha. “Faltam uns retoques”, afirma, depois de cinco meses de trabalho que começaram com um tosco desenho, “apenas para determinar a posição do homem”, numa folha dobrada que ele vai buscar ao carro para mostrar. “Tudo o resto foi saindo” à medida que ia trabalhando o ignimbrito, “pedra dura, não é fácil”, e que saiu do porto ali ao lado, quando fizeram obras há pouco tempo.

Ainda não tem nome esta obra. “Será a câmara a dar.” Afinal, ele está aqui a trabalhar para a autarquia, através do programa Recuperar, para desempregados. “A vida não é sempre fácil”, diz, recordando como deixou a escola durante o 6º ano e os 10 anos a trabalhar na construção civil até deixar de ter emprego.

A escultura passou a consumir-lhe grande parte do tempo e mesmo ao lado desta obra que ganha forma já há outro trabalho dele, uma alegoria aos primeiros descobridores, lê-se no painel informativo. Também trabalha em madeira, com motosserra, e os bancos nas Furnas, no parque das caldeiras, onde se cozinha o célebre cozido (e também caldeirada de bacalhau, arroz doce e até pudins) são da sua autoria.

“Havia também esculturas, mas despareceram antes de lá chegarem.” Quando terminar esta obra, já está a pensar no que fazer com a enorme rocha que está no mesmo pontão. Um cachalote e uma bússola estão na mente do artista à espera de reconhecimento, que recebe algumas, poucas, encomendas privadas.

“Como um canhão de pedra de 2,58 metros.” Está preparado para tudo. Para voltar à construção ou até para emigrar. O que é preciso é trabalhar, diz, no seu sotaque cerrado.

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João Moniz Paulo Pimenta