Design: da produção em grande série produção em pequena série

Portugal, orgulhoso da sua grande arquitectura, propõe na XXI Trienal de Milão a requalificação e a reutilização de tecido edificado, de mobiliário e objectos

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"1st Century Design after Design" é o título da XXI Trienal de Milão. Faz algum tempo que todas as disciplinas do projecto, desde a concepção da arquitectura ao produto industrial e à arquitectura paisagista, procuram um depois, questionando-se sobre a evolução daqueles que foram os estatutos disciplinares definidos pelo Movimento Moderno e pelo Fordismo. Muitos projectistas, bem como empresários, gostavam de utilizar a grande série para a massificação da estética. Juntos podiam desempenhar a nobre função de combinar a inovação tecnológica e estética com a forma das mercadorias que podiam ser vendidas nos supermercados, agora não apenas um privilégio reservado a quem podia pagar preços elevados, derivados dos altos custos do produto de artesanato de qualidade, mas enquanto produto acessível a muitos dos assalariados das fábricas.

A trienal do Design After Design mostra-nos a superação, já em curso há algum tempo, da produção em grande série e da massificação da estética em prol da produção de pequena série, que volta a ser um luxo reservado a poucos. Quase para compensar, também incentiva e exalta a auto-produção, sempre de pequenas séries, ou a produção de protótipos, trabalho voluntário este último, muito raramente recompensado com o ingresso no mercado da arte e do coleccionismo e quase sempre fruto de investigação e trabalho assumido pelo próprio projectista a custo zero. De facto, existe cada vez mais uma geração de projectistas desempregados.

Este fenómeno representa uma verdadeira superação dos preceitos do moderno ou uma cínica restauração do privilégio da estética, típica da era pré-moderna? Portugal, orgulhoso da sua grande arquitectura, propõe na XXI Trienal de Milão a requalificação e a reutilização de tecido edificado, de mobiliário e objectos, onde o tema do reuso assume uma nova centralidade, tanto na arquitectura como no design.

A ESAD/Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, uma escola de design que explora os limites fluídos entre o design e a arquitectura, apresenta a reutilização e a requalificação de peças de mobiliário, destinadas ao lixo, reprojectadas pelos alunos do curso de Design de Interiores. No mesmo contexto, o presidente da Câmara Municipal do Porto apresenta no Palazzo dell’Arte, em Milão, o projecto de reutilização e requalificação do ex-matadouro do Porto. São 25 mil metros quadrados de arquitectura industrial a serem requalificados e transformados num espaço experimental, ao serviço da cultura, para a promoção de novas modalidades de produção, em forte relação com os habitantes do tecido urbano envolvente.

Esta participação portuguesa na XXI Trienal de Milão, significativamente levada a cabo por uma escola, demonstra, perante uma degradação ambiental implacável, um consumo do solo (oito metros quadrados quadrados por segundo em Itália), uma destruição do território, da paisagem e sobreprodução — que o Movimento Moderno nos deixa como herança — como a estratégia da reutilização requalificada de espaços e objectos já construídos e já produzidos é uma inovação projectual e produtiva radical, que pode reduzir o consumo de recursos e prefigura uma nova cultura sustentável, diferente tanto do projecto como do consumo.

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