Wang Shu e Lu Wenyu trazem a arquitectura chinesa a Lisboa

Faculdade de Arquitectura de Lisboa traz Prémio Pritzker e a mulher pela primeira vez a Portugal.

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Museu de História de Ningb DR
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Museu de Ningb AFP
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A expressão das paredes com os materiais reciclados DR
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Wang Shu DR
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Jardim de Telhas em Veneza DR

Quando o Prémio Pritzker foi atribuído em 2012 ao arquitecto chinês Wang Shu, alguns perguntaram por que razão o reconhecimento não tinha sido estendido a Lu Wenyu, a sua colega de atelier e mulher. Como era o primeiro arquitecto a trabalhar na China a receber o prémio mais importante da disciplina, as questões de género foram esquecidas e sublinhada a relevância de se tratar de um atelier - o Amateur Architecture Studio - representante de uma prática assumidamente crítica do modelo de desenvolvimento descontrolado das cidades chinesas.

Juntos, Wang Shu e Lu Wenyu vão estar pela primeira vez em Portugal a convite da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, este ano organizadora da Conferência Internacional EAAE/ARCC, sob o tema "Architectural Research Adressing Societal Challenges", que agrega centenas de escolas de arquitectura e centros de investigação da Europa e da América do Norte. É exactamente para a abertura deste encontro, que durará de 15 a 18, que foi convidado o casal chinês, com conferência marcada para as 18h30 na Aula Magna, o único evento a que se pode assistir sem estar inscrito (bilhetes a 5 euros através da Ticketline).

E porquê o Amateur Architecture Studio? Além dos participantes da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá, a faculdade procurou abrir-se a outras geografias com alguém que pudesse atrair o público português pela novidade, explica Manuel Couceiro, presidente da conferência. “A incompatibilidade ou a compatibilidade entre o mundo rural tradicional e o boom de construção é exacerbado na China mas acontece um pouco por todo o mundo”, continua o professor da Faculdade de Arquitectura, lembrando o perfil destes arquitectos que interrogam a influência da arquitectura ocidental na China e exploram a construção vernacular nas suas obras.

Foi no final dos anos 90 que os dois arquitectos fundaram o atelier em Hangzhou, chamando a atenção, nos anos seguintes, com obras como o Museu de Ningbo, o Campus Xiangshan ou o Jardim de Telhas na 10ª Bienal de Arquitectura de Veneza. Numa entrevista ao Ípsilon no ano em que ganhou o Pritzker, Wang Shu explica como é que essa valorização da arquitectura tradicional passa também pela reciclagem e reutilização de materiais. "Não imaginam quantos edifícios antigos foram demolidos na década passada, uma quantidade incrível de telhas que ninguém sabe como usar.” Em 2010, na Bienal de Arquitetura de Veneza, o atelier de Wang Shu mostrou um jardim feito de 66 mil telhas recuperadas em demolições. Quase todos os edifícios no Campus Xiangshan dispõem de telhas semelhantes, utilizadas em coberturas, no revestimento de fachadas e em pavimentos, como que formando parte do todo da paisagem. "Todas as telhas são recicladas. Quero debater a reutilização do material. Estas telhas vêm da província de Zhejiang, onde na demolição das velhas cidades e casas são desprezadas como lixo. A arquitectura sustentável não é uma questão de usar dispendiosos materiais e alta-tecnologia, mas de saber fazer coisas simples. Essas telhas reflectem uma ligação com a tradição", diz.

As fachadas do Campus Xiangshan ou do Museu de Ningbo também se constroem a partir de tijolos de tamanhos e cores diferentes. "Na parte Leste desta província [Zhejiang], perto do mar, as pessoas sofrem com muitos tufões, causando o colapso das suas casas. Como não têm muito tempo para reconstruir, recolocam aleatoriamente os tijolos. Acho esse método muito belo."

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