Bill Cosby vai ser julgado por abuso e agressão sexual

Actor pode enfrentar pena de dez anos de prisão se for condenado.

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Cosby esta terça-feira à saída do tribunal em Norristown Mark Makela/REUTERS

Depois de meses no sistema judicial e de anos de acusações e acordos sigilosos, o histórico actor e comediante norte-americano Bill Cosby vai mesmo a julgamento por abuso e agressão sexual. A decisão da juíza Elizabeth McHugh foi tomada esta terça-feira em Norristown, Pensilvânia, e diz respeito ao caso que remonta a 2004, no âmbito do qual Andrea Constand alega que o popular entertainer lhe deu três comprimidos que a incapacitaram de resistir a actos sexuais. 

Na audiência desta terça-feira, na presença de Cosby, a juíza deliberou que os procuradores têm provas suficientes para levar o actor de 78 anos a julgamento, como relata a agência de notícias Associated Press. "Sr. Cosby, boa sorte para si", disse Elizabeth McHugh, no final de uma sessão em que se analisaram as acusações de uma das mais de 50 mulheres que vieram a público nos últimos anos para denunciar alegadas práticas recorrentes do comediante – o uso de estupefacientes para atordoar mulheres de várias idades e as tornar vulneráveis aos seus avanços. "Obrigado", respondeu Cosby, que se levantou rapidamente e pareceu, segundo a Associated Press, pouco surpreendido com o desfecho.

Se for condenado pelas três acusações de que é alvo, Bill Cosby pode enfrentar uma pena até dez anos de prisão. A data do julgamento ainda não foi marcada. O actor e comediante tem sempre negado as acusações de que é alvo.

O procurador público do distrito de Montgomery, Kevin Steele, disse aos jornalistas à saída da audiência que na mesma foi evidente "a admissão de grande parte do crime" por parte de Cosby, escreve a Variety.

Acusações de violação ameaçam destituir Bill Cosby do papel de "pai da América"

Em 2005, Andrea Constand, funcionária da Temple University, já tinha interposto um processo cível contra o entertainer por violação, acto que terá ocorrido na casa da alegada vítima. Mas chegou a acordo extrajudicial  os termos desse acordo não foram revelados  em 2006. O processo foi reaberto quando uma série de outras mulheres começou a denunciar casos similares na comunicação social norte-americana e quando um comediante, Hannibal Buress, falou sardonicamente sobre o assunto num dos seus espectáculos. Muitos dos outros casos já prescreveram pelo facto de as alegadas agressões sexuais terem ocorrido há várias décadas.

No ano passado, procuradores públicos começaram a trabalhar num caso contra Cosby na sequência de terem sido tornados públicos novos dados da acusação de Constand. A agência de notícias Associated Press solicitou em tribunal o acesso a novos documentos de um conjunto que já tinha sido parcialmente revelado pelo New York Times em Novembro de 2014 – mas então mais centrados num acordo entre Bill Cosby e o tablóide americano National Enquirer. Neles, Cosby admitia o uso de certos fármacos para seduzir mulheres e ter mantido casos extraconjugais ao longo da vida. 

Ao longo das actuais sessões, Constand não esteve presente mas foram lidos excertos das suas declarações à polícia em 2005, bem como das de Cosby. Quando se queixou dos efeitos debilitantes dos comprimidos que lhe terão sido dados, Cosby ter-lhe-á respondido que eram medicamentos de ervanária, dando-lhe vinho. Constand terá acordado com o soutien revolto e sem memória do que acontecera. Os advogados de Cosby contestaram sobretudo, sem sucesso, o facto de não haver um testemunho novo da alegada vítima, mas também o facto de Constand ter continuado a relacionar-se com o seu alegado abusador durante algum tempo. Cosby retratou o sucedido como um contacto sexual consentido e garantiu que Constand nunca lhe disse "não", detalhando que os comprimidos eram Benadryl, nome comercial de um medicamento anti-histamínico conhecido pelos seus efeitos potenciadores do sono.

Os casos têm sido dilacerantes para a imagem pública de Cosby, até há pouco tempo um ícone da América dos anos 1980 e, em particular, da América negra. Encontra-se em liberdade graças a uma fiança no valor de um milhão de dólares e lida vários casos de difamação por classificar as suas acusadoras como mentirosas.  

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