Zika pode chegar à Madeira nos próximos meses, alerta a OMS

Organização Mundial da Saúde fez uma análise sobre o risco de o vírus se transmitir localmente na Europa. A ilha da Madeira foi incluída nas zonas de risco elevado.

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O mosquito Aedes aegypti que transmite o vírus Zika Paulo Whitaker/Reuters

O vírus Zika, que provoca uma infecção que está relacionada a malformações graves do cérebro dos recém-nascidos, pode disseminar-se até à Europa à medida que as temperaturas vão subindo durante os próximos meses – alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta quarta-feira.

Na sua primeira avaliação sobre a ameaça que o Zika representa para a região europeia, a OMS considerou que o risco é globalmente baixo a moderado. Mas que a probabilidade de transmissão local do vírus é alta nas zonas onde existem os mosquitos Aedes aegypti, que são os seus principais transmissores – em particular na ilha da Madeira e no Nordeste do Mar negro. Para Portugal continental, o risco foi considerado baixo.

“Há um risco de disseminação do vírus Zika na região europeia e o risco varia de país para país”, disse Zsuzsanna Jakab, directora regional da OMS para a Europa. “Pedimos particularmente aos países com risco maior para reforçarem as capacidades nacionais e as actividades que previnam um grande surto de Zika.”

A Região Europeia da OMS abrange 53 países e quase 900 milhões de pessoas. Vai desde o oceano Árctico até ao Mar Mediterrâneo, a sul, do Atlântico, a oeste, até ao Pacífico, a leste.

O grande surto que tem atingido o Brasil lançou o alerta global. Já foi estabelecida a ligação científica entre o vírus e milhares de casos de recém-nascidos com uma malformação congénita conhecida por microcefalia e cujas mães ficaram infectadas durante a gravidez. A OMS também já disse que há grande consenso científico de que o Zika causa síndrome de Guillain-Barré, um problema neurológico raro que provoca paralisia temporária nos adultos.

Em Fevereiro, a OMS declarou que a epidemia do Zika é uma emergência de saúde pública de âmbito internacional, alertando que estava a espalhar-se “de forma explosiva” pelas Américas.

Se não forem tomadas medidas para mitigar a ameaça, a probabilidade de transmissão local do Zika é moderada em 18 países europeus, segundo a análise da OMS para a Europa, tendo em conta a presença do mosquito Aedes albopictus, que se pensa também transmitir o vírus. Outros 36 países europeus têm um risco baixo, muito baixo ou nada provável, devido à ausência dos mosquitos do género Aedes ou de condições climáticas propícias a que lá se estabeleçam, concluiu esta avaliação.

Os países com risco alto e moderado de Zika devem melhorar as medidas de controlo de vectores de doenças, para evitar a disseminação dos mosquitos e reduzir a sua densidade, recomendou ainda o gabinete da OMS para a Europa. Também devem equipar os profissionais da saúde para detectarem facilmente casos de infecção, os relatarem rapidamente e ajudarem as pessoas em risco – em particular as mulheres grávidas – a protegerem-se da infecção.

O alerta da OMS sobre o Zika é “oportuno e real”, comentou Paul Hunter, professor de saúde pública na Universidade de East Anglia (Reino Unido), embora acrescentasse que é provável que qualquer surto seja de duração relativamente curta. “O risco é sobretudo na Europa do Sul e especialmente à volta da costa do Mediterrâneo”, considerou Paul Hunter. “No entanto, mesmo que o Zika comece a espalhar-se pela Europa, é improvável que se estabeleça, uma vez que é muito pouco provável que o surto continue durante o Inverno.”

A análise da OMS para a região Europeia sobre o risco do Zika teve em conta múltiplos factores, entre os quais a presença de mosquitos que transmitem o vírus, climas adequados para os mosquitos, uma história anterior de transmissão dos vírus da febre de dengue ou Chikungunya, ligações por navios e aviões e a densidade populacional e urbanização. Considerou igualmente a capacidade de cada país em conter a transmissão do vírus numa fase inicial, baseada em quatro factores principais: controlo de vectores, vigilância clínica, capacidade laboratorial e comunicações do risco em situações de emergência.

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