Ministério da Saúde disponível para aprovar obras no Hospital de Santarém

Vários chefes de cirurgia tinham ameaçado colocar o lugar à disposição, para garantir que o bloco operatório volte a funcionar a 100%. Mas problemas estendem-se à falta de anestesistas, enfermeiros e auxiliares.

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Público/arquivo

O Ministério da Saúde (MS) prometeu esta segunda-feira fazer avançar as obras necessárias nas salas de cirurgia do Hospital de Santarém, desbloqueando assim um processo que se arrasta há mais de um ano. O anúncio seguiu-se  à notícia de que 15 chefes de cirurgia daquele hospital se teriam mostrado disponíveis, junto do conselho de administração, para colocarem o seu lugar à disposição, numa tentativa de reforçarem a capacidade negocial do estabelecimento hospitalar.

O secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, deslocou-se ontem àquele hospital, para uma reunião com o respectivo conselho de administração, já depois de vários órgãos de comunicação social terem dado como certa a demissão dos chefes de serviço. Ao PÚBLICO, fonte do MS garantiu, porém, que tal nunca chegou a acontecer. E afiançou ainda que as obras em causa foram já aprovadas pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. O passo seguinte obriga à emissão de um parecer técnico da Administração Central do Sistema de Saúde, a concluir brevemente, após o que “a situação deverá ser desbloqueada num curto espaço de tempo”, acrescentou a mesma fonte do gabinete de Adalberto Campos Fernandes.

Horas depois da reunião com Manuel Delgado, também o administrador daquela unidade de saúde, José Josué, desmentia em comunicado que directores e responsáveis de serviço tivessem chegado a colocar o lugar à disposição e confirmava ter recebido do MS a garantia de que as obras no bloco operatório serão desbloqueadas "dentro de uma a duas semanas", com um orçamento próximo dos 5,5 milhões de euros, a suportar por fundos comunitários. 

Construídas em 1985, as instalações do bloco operatório do Hospital de Santarém “não oferecem as condições mínimas de segurança para a função que exercem”, segundo os médicos. Aliás, por causa da degradação física do espaço, nomeadamente do deficiente funcionamento do sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado, o bloco central tem estado a funcionar com apenas metade das salas, o que levou a uma quebra de aproximadamente 50% no número de cirurgias realizadas. 

Satisfeito pelo facto de "o grito de alma" dos médicos ter contribuído para o diálogo com o MS, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Paulo Roque da Cunha, lembra, porém, que os problemas não se restringem ao bloco operatório. "Temos a questão do envelhecimento dos quadros médicos  e da incapacidade de contratar novos profissionais. Isso acontece porque, em termos práticos, os concursos demoram meses e os médicos estão naturalmente disponíveis para o mercado, numa altura em que os privados, bem como os governos estrangeiros, estão a contratar agressivamente". 

O pagamento das horas extraordinárias é outro dos problemas. "Pagam de forma irrisória, pagando às vezes o triplo às empresas de prestação de serviços", acusa ainda Roque da Cunha. 

O administrador do hospital, por seu turno, soma ainda a falta de anestesistas à lista de problemas. "É o que mais desconforto tem causado. Podemos ter muitas salas, mas, se não tivermos anestesistas, as cirurgias não se fazem", adiantou, citado pela Lusa. 

Na denúncia que um dos médicos do hospital fez chegar ao PÚBLICO, alude-se ainda ao aumento substancial da lista de espera “que previsivelmente atingirá os quatro mil utentes no final de 2016”. Acrescem a isto os “atrasos graves no tratamento de doentes prioritários, nomeadamente doentes oncológicos”, a “falta grave” de auxiliares e de enfermeiros “de bloco e de urgência” e as “condições precárias dos serviços de internamento”, entre outros problemas.

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