O momento em que Jesus deu o título a Vitória

Jorge Jesus fez um trabalho excepcional no Sporting. No seu primeiro ano à frente da equipa “leonina”, o treinador cumpriu aquilo que prometeu quando foi apresentado aos adeptos sportinguistas: lutou pelo título até ao fim, apesar de liderar a equipa com o plantel mais limitado dos três “grandes”. Jesus fez quase tudo bem, mas cometeu um erro que lhe foi fatal e que, muito provavelmente, ofereceu o título ao Benfica.

O tiro no pé foi dado a 6 de Janeiro. No final da partida entre o Sporting e o Vitória de Setúbal, Jorge Jesus perdeu a noção dos limites e, depois de vários dias com muitas trocas de mimos de parte a parte, o treinador do Sporting foi longe de mais, falando assim de Rui Vitória: “Sou mau colega? Treinador? Como não o qualifico como treinador, logo não sou mau colega. Para ser treinador ele tem de ser muito mais. Fi-lo sair da toca.”

Até esse momento, Rui Vitória era um técnico muito pouco consensual na Luz, que não tinha ainda conseguido afirmar-se como treinador principal do Benfica, incapaz de conquistar os adeptos, desconfiados com a irregularidade exibicional e de resultados dos “encarnados”. Até essa data, o Benfica não tinha sido capaz de somar mais do que três vitórias seguidas. Às costas já tinha sete derrotas e dois empates, para além do desaire na Supertaça com o rival.

O curto curriculum de Vitória e a sua nula experiência à frente de um clube “grande” pesavam e a impaciência com a forma pouco atractiva como os benfiquistas jogavam por essa altura era audível não só no Estádio da Luz mas também nas conversas de café. Mas depois das declarações de Jesus, tudo se alterou. A equipa de Rui Vitória registou apenas mais duas derrotas e um empate (todas as competições juntas), roubou a liderança da I Liga aos “leões” e somou pelo menos duas séries de oito triunfos consecutivos.

O resultado prático da declaração de Jesus foi o de unir os benfiquistas em torno do seu treinador. Entre os adeptos, Rui Vitória passou a ser visto como um dos seus. Entre os jogadores, o caso foi visto como um ataque ao seu líder e, por extensão, a todos eles.

Claro que Rui Vitória também teve mérito na conquista do 35.º título do Benfica. Venceu o fantasma Jesus, que durante muito tempo o assombrou na Luz, e soube ultrapassar as lesões de jogadores fundamentais recorrendo a atletas inexperientes que transformou em titulares indiscutíveis (alguém diria, no início da época, que Lindelöf, Ederson ou Renato Sanches teriam esse estatuto?). Mas tudo mudou naquele momento em que Jesus disse que o treinador que viria a ser campeão… não era treinador.

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