Portuguesa vence prémio mundial de melhor tese de doutoramento

Ana Sofia Silva é ex-aluna do programa doutoral MIT Portugal e foi distinguida com o prémio de melhor tese de doutoramento

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Com a tese de doutoramento “Multifunctional nano-in-micro formulations for lung cancer theragnosis”, Ana Sofia Silva deu mais um passo na corrida da evolução científica. A “International Society for the Advancement of Supercritical Fluids” atribuiu-lhe, esta quarta-feira, o prémio de melhor tese de doutoramento.

Uma nova abordagem terapêutica para o cancro do pulmão é o cerne do trabalho desenvolvido ao longo de três anos na instituição LAQV-REQUIMTE, no grupo Polymer Synthesis and Processing, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O projceto foi elaborado sob orientação da professora catedrática Ana Aguiar-Ricardo.

  

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Ana Sofia Silva é ex-aluna do programa doutoral MIT Portugal DR

Ao JPN, a investigadora conta que a ideia do tema da tese de doutoramento surgiu “na altura da dissertação de mestrado, onde investigava novos agentes à nano escala para terapia do cancro do pulmão”. Surgiram colaborações entre o grupo de investigação do mestrado e o grupo da Universidade Nova de Lisboa, “que investigava também arduamente novas formas de administração pulmonar". Em conjunto, decidiram construir "um plano de trabalhos que permitisse usar estas novas técnicas com os sistemas à nano escala para tratamento do cancro”.

A investigadora concorreu ao prémio dois minutos antes do fim do período de candidaturas

A administração localizada de fármacos tem-se mostrado promissora no tratamento do cancro do pulmão e doenças pulmonares. Assim sendo, a investigadora combinou a engenharia de partículas com a administração pulmonar com o objectivo de desenvolver uma nova estratégia potencialmente efectiva na utilização de fármacos na zona específica do cancro do pulmão.

Ana Sofia Silva explica o objectivo da tese

Depois de três anos no LAQV-REQUIMTE, Ana Sofia Silva passou cinco meses no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde sistemas à nanoescala com elevada eficiência contra as células tumorais foram desenvolvidos e posteriormente encapsulados em micropartículas para administração pulmonar. Os nanosistemas permitem silenciar os genes-alvo associados à via genética do cancro.

Pós conseguem chegar às zonas mais profundas do pulmão

O trabalho já avançado foi testado em ratos saudáveis de forma a avaliar a biodistribuição das partículas. “Foi no MIT que testámos os nossos ‘pós’ à escala ‘nano-in-micro’ em animais. Antes disso, testámos em células e só depois de reunidas as condições necessárias, passamos para uma escala ‘in vivo’. Conseguimos provar que é possível chegar à zona pulmonar, ao local onde queremos administrar os agentes terapêuticos”, contou ainda a investigadora.

Os resultados da tese não podiam ser mais motivadores: as formulações desenvolvidas provam que a via da administração pulmonar é, de facto, a adequada e tem as condições para aplicação futura no tratamento do cancro do pulmão.

Cancro pulmonar: o mais comum e mortal

Ao JPN, a investigadora mostrou-se surpresa ao ver a sua tese de doutoramento premiada internacionalmente. Agora, a investigação, desenvolvida com a colaboração com o grupo Biomaterials and Tissue Engineering do CICS, Universidade da Beira Interior (UBI), sob a supervisão de Ilídio Correia, professor auxiliar na instituição, continua. O grupo de trabalho continua empenhado no desenvolvimento da administração pulmonar, até porque cada vez mais se aposta nestes novos campos tecnológicos.

Apesar dos avanços clínicos e tecnológicos no que toca ao tratamento do cancro pulmonar, a maioria dos pacientes é diagnosticada tardiamente com doença local ou metastizada. Os dados actuais indicam que 86% dos pacientes morrem no espaço de dois anos, enquanto apenas 14% sobrevive durante cinco anos.

As terapias para o cancro do pulmão são ineficientes, uma vez que os agentes terapêuticos não chegam à zona mais profunda do pulmão. Cada vez se sabe mais sobre as causas deste tipo de cancro, a forma como se desenvolve e cresce, ou seja, como progride. Estão, por isso, a ser estudadas novas formas de o prevenir, detectar e tratar, tendo sempre em atenção a melhoria da qualidade de vida das pessoas com cancro, durante e após o tratamento.

As terapias devem ser agressivas o suficiente para combater a doença, mas é necessário evitar os efeitos colaterais que podem ter um impacto negativo na saúde do paciente. Assim, e como a distinção da tese de doutoramento indica, a administração localizada de fármacos tem-se revelado das técnicas mais promissoras no tratamento do cancro no pulmão.

Artigo corrigido às 9h57 de 15 de Maio

A versão anterior continha alguns erros técnicos e não referia todos os institutos com que Ana Sofia Silva colaborou.

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