Na segunda sessão do julgamento de Carrilho, Bárbara Guimarães leu notícias

Juíza dá luz verde para televisões poderem filmar as próximas sessões. Advogados dirão mais tarde se concordam. Também “o julgamento de Nuremberga foi filmado", vai dizendo a defesa de Manuel Maria Carrilho.

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Manuel Maria Carrilho ainda não foi ouvido em tribunal DR
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Bárbara Guimarães esteve mais de três horas a ler notícias em voz alta DR

Durante mais de três horas, Bárbara Guimarães leu na íntegra e em voz alta notícias e entrevistas várias de Manuel Maria Carrilho a jornais e revistas. Um “chorrilho de ofensas e de ataques”, nas palavras da apresentadora de televisão, a quem foi pedido, nesta sexta-feira, que comentasse, em tribunal, uma a uma, cada peça.

Nesses artigos, Carrilho é citado a dizer, por exemplo, que a apresentadora de televisão lidava mal com “a crise dos 40” anos, que se tornara alcoólica, que no passado tinha sido vítima de uma suposta tentativa de violação por parte do padrasto — “uma acusação hedionda”, sublinhou a apresentadora perante a juíza, com o ex-marido atrás de si, no banco dos réus. Bárbara Guimarães foi, de resto, explicando que essas notícias — publicadas nos últimos meses de 2013, após a sua primeira queixa ao Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa — a chocaram, lhe causaram um grande “sofrimento” e à sua família. “Fui perdendo as forças”, disse a certa altura.

Três meses depois da sua primeira sessão, o julgamento de Manuel Maria Carrilho, 64 anos, foi retomado nesta sexta-feira. Está acusado neste processo de um crime de violência doméstica e de 21 crimes de difamação contra Bárbara Guimarães, de 43 anos. Joana Ferrer, a juíza que foi criticada pela forma como conduziu os trabalhos no arranque do julgamento, a 12 de Fevereiro, continua com o caso.

Na sessão de dia 12, a apresentadora tinha descrito as agressões que alega ter sofrido (“pontapés”, “empurrões”, “murros”), as “ameaças” (“Ele disse: ‘mato-te a ti, mato os nossos filhos e a seguir mato-me a mim”) e os insultos. Nesse dia, a juíza tratou sempre a apresentadora por “Bárbara” e Carrilho por “professor” e fez vários comentários que se tornariam polémicos, nomeadamente sobre o facto de Bárbara Guimarães não se ter queixado mais cedo.

A certa altura, a procuradora do Ministério Público disse à apresentadora: “Não tem que se justificar ao tribunal por que é que não foi ao médico. Ninguém a pode censurar.” Já a juíza disse: “A senhora procuradora diz que não tem que se sentir censurada. Pois eu censuro-a!” Nos dias que se seguiram, a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas emitiu um comunicado onde expressava “a sua preocupação” com estas declarações. O Ministério Público e o advogado de Bárbara Guimarães apresentaram, cada um, um requerimento de recusa da juíza. E, por fim, foi a própria Joana Ferrer a pedir o afastamento, apesar de garantir que as suas afirmações tinham sido deturpadas. A 14 de Abril, a Relação de Lisboa decidiu manter a juíza.

“Por mim teriam já sinal verde”

Agora, retomado o julgamento, Joana Ferrer começou por dizer que seriam facultadas as gravações áudio da audiência aos jornalistas que as solicitassem. E que, por ela, também haveria gravação de imagens, pelas estações de televisão.

“Por mim teriam já sinal verde”, afirmou Ferrer, pedindo às partes para que na próxima sessão façam saber se estão de acordo com isso.

À saída do tribunal, o advogado de Manuel Maria Carrilho foi questionado sobre o assunto. “O julgamento de Nuremberga foi público e filmado, por isso qualquer julgamento deve ser”, declarou Paulo Sá e Cunha aos jornalistas. “A justiça penal tem de ser escrutinada, designadamente pela comunicação social. Quando envolve a esfera privada das pessoas, ou [questões] relacionadas com menores, permite-se excepcionalmente que as sessões decorram com exclusão de publicidade. Se estas situações se verificarem neste julgamento, quem tiver especial interesse nisso requererá a exclusão de publicidade.”

Já os comentários de Carrilho sobre a sessão foram mais genéricos: afirmou, citado pela agência Lusa, que se assistiu a “uma longa série de patranhas de Bárbara Guimarães”.

Carrilho foi ainda confrontado por jornalistas que o terão visto, num intervalo da audiência, no interior do tribunal, a fotografar, com o telemóvel, Bárbara Guimarães e um amigo da apresentadora, junto à casa de banho. O antigo ministro da Cultura negou.

O professor universitário está ainda acusado por difamação num outro processo em que a assistente é a mãe de Bárbara Guimarães, e, segundo o advogado da apresentadora, Pedro Reis, deverá ainda responder noutro processo por mais um crime de violência doméstica.

Na próxima sessão, marcada para a próxima sexta-feira, Bárbara Guimarães tem mais notícias para ler e comentar, para além de haver também DVD’s, com mais entrevistas de Manuel Maria Carrilho, a visionar. A ideia dos advogados da apresentadora é que o tribunal possa avaliar de que forma as declarações de Carrilho ofenderam a honra e dignidade de Guimarães.

Para além disso há ainda 70 testemunhas por ouvir e vários peritos “que constam dos autos”, lembrou a juíza. Carrilho ainda não falou. O julgamento promete prolongar-se. "Doutora Bárbara, cá estaremos no dia 20", disse Joana Ferrer.

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