A cor do dinheiro

Jodie Foster dirige eficientemente um filme ambíguo entre o thriller tenso e o drama tópico, que faz perguntas mais do que procura respostas.

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A direcção de Jodie Foster é mais funcional do que inspirada e virada sobretudo para os actores (todos excelentes)

Enquanto actriz ou enquanto realizadora, Jodie Foster sempre privilegiou a ideia de complexidade: revelar numa personagem a sua natureza essencialmente irredutível, transcendendo as dicotomias fáceis para mostrar como um ser humano é algo mais do que apenas aquilo que nele vemos neste momento específico. Essa ambiguidade explica porque é que Money Monster são na verdade dois filmes que ora se juntam ora se separam, tornando a quarta realização da actriz simultaneamente entusiasmante e frustrante.

Por um lado, estamos perante um thriller mais ou menos clássico à volta de uma tomada de reféns – um apresentador blasé de um programa financeiro (George Clooney, igualmente produtor do filme) que é feito refém literalmente em directo por um estafeta que perdeu tudo a jogar na bolsa (Jack O'Connell). Por outro, é uma meditação sobre o mundo moderno em que vivemos – sobre o “monstro” económico que deixámos crescer até se ter tornado num polvo aparentemente indestrutível, sobre a “sociedade do espectáculo” alimentada a directos sensacionalistas (alguém diz às tantas, “como se isto fosse jornalismo”). E a ironia de vermos um filme sobre o poder da televisão feito para o grande ecrã não passa desapercebida – mesmo que a direcção de Foster seja eficaz e funcional mais do que inspirada, e sobretudo virada para os actores (todos excelentes).

De certo modo, Money Monster é um filme de Hollywood na era Donald Trump/Bernie Sanders – ou seja, é sobre a frustração com o sistema, a procura de uma saída, o cansaço do “trabalhar para aquecer”, mas quer sê-lo dentro da lógica de um entertainment de máximo denominador comum, dentro de uma narrativa de género. Por relação a um outro filme recente de Hollywood sobre a recessão – A Queda de Wall Street, de Adam McKay –, é menos furioso e mais resignado, como quem diz “sim, isto é tudo muito bonito, mas todos sabemos que (ao contrário do que acontece nos filmes) dificilmente o sistema poderá ser mudado”.

Money Monster quer estar ao mesmo tempo de ambos os lados da barricada: faz as suas perguntas sem carregar no traço grosso, plantando-as para ficarem a ecoar na cabeça do espectador, só que ao mesmo tempo resguarda-se em demasia, está sempre à beira da explosão do colete armadilhado mas refugia-se na convenção da mecânica narrativa para se proteger dos estilhaços. Se essa ambiguidade lhe fica bem, também o impede de meter prego a fundo e de chegar ao grande filme que ameaça a espaços ser.

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