Antes a noite do que este filme

Não nos recordamos de ver Juliette Binoche tão mal, num filme literalmente sem ponta por onde se pegue.

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A espanhola Isabel Coixet é uma cineasta desigual, capaz do bem interessante (como a sua adaptação da Elegia de Philip Roth com um imperial Ben Kingsley, ou o estupendo A Minha Vida sem Mim) e do perfeitamente esquecível. Mas nada faria esperar o desastre absoluto de Ninguém Quer a Noite, que desbarata uma ideia razoavelmente interessante numa colecção de lugares-comuns alinhados às três pancadas, sem ponta por onde se lhe pegue. 

Inspirado na personagem real de Josephine Peary, esposa do explorador árctico norte-americano Robert Peary, o filme envia-a ao encontro do marido em 1908 apenas para dar por si literalmente sozinha no Pólo Norte à beira do Inverno, acompanhada por uma esquimó que, vir-se-á a saber, tem uma razão para ter ficado à espera de Peary.

A calamidade começa quando percebemos que Coixet tem Juliette Binoche nas mãos e não consegue melhor do que uma caricatura de Katharine Hepburn, afogada numa sobranceria casmurra e incapaz de humanidade, sem que alguma vez sintamos na actriz o empenho que lhe costumamos reconhecer mesmo em filmes menores. Chamar “menor” a Ninguém Quer a Noite é, aliás, já de si benevolente: percorrem-se as suas quase duas horas sem nunca perceber aquilo que interessou a realizadora e a actriz neste melodrama esquemático à medida de telenovela, incapaz sequer de explorar o choque cultural entre duas culturas opostas. E nem a remontagem de que o filme foi alvo depois de uma gélida estreia em Berlim em 2015 o consegue salvar. Que esta catástrofe risível chegue às salas portuguesas, quando tanto filme infinitamente mais interessante fica por estrear ou chega tarde e a mais horas, é absolutamente inexplicável.

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