As feridas e sensibilidades que Cristas vai encontrar no CDS-Madeira

Centristas madeirenses saíram de um congresso em Dezembro sem recuperarem da hecatombe eleitoral das legislativas.

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Assunção Cristas vai encontrar um partido cheio de sensibilidades distintas Rui Farinha

Quando Assunção Cristas aterrou esta segunda-feira na Madeira, para uma ronda de contactos com militantes e população, encontrou no aeroporto toda a task-force do CDS local. António Lopes da Fonseca, líder do partido no arquipélago, e Rui Barreto, líder parlamentar na assembleia regional, que saíram vitoriosos do congresso de Dezembro último, o ex-presidente dos centristas madeirenses José Manuel Rodrigues e Ricardo Vieira, deputado e histórico do CDS-Madeira. Estavam todos lá, mas por baixo desta aparente união em torno da liderança, mora um partido – o maior da oposição na região – que está longe de falar a uma só voz.

Exemplos não têm faltado nestes meses que se seguiram ao congresso que marcou a sucessão de José Manuel Rodrigues. O último aconteceu nas eleições para a concelhia do Funchal. Barreto integrou a lista vencedora como presidente da mesa da assembleia e Vieira candidatou-se exactamente para o mesmo cargo na lista concorrente.

Lopes da Fonseca não foge à questão. “O partido tem meia-dúzia de vozes críticas lideradas pelo Dr. Ricardo Vieira”, diz, taxativo, ao PÚBLICO, prometendo agir em conformidade com as “regras do partido” e “regulamentos do grupo parlamentar”, se ocorrerem episódios que lesem o CDS-Madeira.

“O dr. Ricardo Vieira tem muitas vezes dificuldades em aceitar as derrotas”, acrescenta, referindo-se ao último congresso em que o deputado abandonou os trabalhos, depois de a moção estatutária que apresentou ter sido rejeitada pela maioria dos congressistas. O presidente dos centristas madeirenses, que se definiu com um líder de transição com o objectivo de unir o partido, não o tem conseguido fazer.

Na sombra, um grupo de militantes tem vindo a "contar espingardas" através de reuniões à margem dos órgãos do partido. Os convites, sabe o PÚBLICO, têm sido feitos em nome de Ricardo Vieira, mas este rejeita qualquer envolvimento. “Não tenho conhecimento de nada, é uma novidade para mim”, garante ao PÚBLICO, desvalorizando também a entrada na lista contrária à da direcção regional para a concelhia do Funchal.

“Fui convidado por uma pessoa [Américo Dias] com quem me relaciono há muito tempo, e não interpretei essa candidatura como contrária à comissão política regional”, argumenta o ex-líder do CDS-Madeira.

O partido, embora liderando a oposição na Madeira, sofreu uma pesada derrota nas últimas legislativas. Perdeu a representação em São Bento e um líder carismático, José Manuel Rodrigues, que o ergueu dos resultados residuais ao estatuto de segunda força política regional, logo atrás do PSD. No congresso de Dezembro, Lopes da Fonseca convenceu Rui Barreto a retirar a candidatura com a promessa de unir o partido e depois passar a liderança, mas a oposição interna - muitas vezes silenciosa, outras nem tanto - tem complicado esta transição pacífica.

Na última semana, durante um debate na assembleia madeirense, Ricardo Vieira votou contra uma proposta do próprio grupo parlamentar, que pretendia que um conjunto de diplomas sobre o mesmo tema fosse votado em conjunto. Vieira, sem consultar o grupo, fez mesmo uma declaração de voto individual. E sublinhou que era em nome individual que falava.

“Acredito que as pessoas não vão colocar o partido à frente dos interesses pessoais e vejo esse episódio como um evento isolado”, desdramatiza Lopes da Fonseca, ao mesmo tempo que avisa: “Se não for, saberei agir em conformidade”.

É este partido que Assunção Cristas vai encontrar esta terça-feira durante a visita, a segunda desde que substitui Paulo Portas na liderança do CDS. Um partido que tem sido o espelho das diferentes sensibilidades do grupo parlamentar, onde, em sete deputados, coexistem dois ex-líderes, o actual presidente e um ex-candidato à liderança.

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