João Vasco Paiva, um português em exposição em Nova Iorque

Com 37 anos, o artista português mostra o seu trabalho pela primeira vez nos EUA. Exposição decorre até 6 de Junho

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Jacob Lewis Gallery

O artista português João Vasco Paiva tem patente na galeria Jacob Lewis, em Nova Iorque, a sua primeira exposição individual nos Estados Unidos até 6 de Junho. Intitulada "Benches, Stairs, Ramps, Ledges, Ground" ("Bancos, degraus, rampas, beiradas, chão", em tradução livre), a exposição reúne instalações, esculturas e desenhos desenvolvidos durante uma residência de dois meses em Nova Iorque.

João Vasco Paiva, 37 anos, explica que a oportunidade surgiu depois de participar numa feira de arte em Hong Kong, uma região especial administrativa da China, onde reside desde 2006. "O galerista viu o meu trabalho na Arte Basel HK, e convidou-me para fazer a exposição, propondo que passasse um trimestre em Nova Iorque e que produzisse o trabalho cá, no sentido de começar a ter uma presença mais assídua na cidade", disse o artista à Lusa.

Feito de materiais industriais, os novos trabalhos exploram o conceito do parque de recreio, baseando-se nas qualidades formais de mobiliário urbano, tais como bancos de jardim, corrimãos e escadas. Paiva aplicou nestes objectos imagens de satélite da Terra e, de seguida, permitiu que "skaters" usassem os objectos como se pertencessem a um parque de "skate". "A exposição explora os aspectos artificiais de parques, que tentam reproduzir e apropriar as qualidades arquitectónicas do espaço público e do seu mobiliário. Reflecte não só a nossa relação com o espaço urbano, mas também a nossa relação com territórios desconhecidos", explica Vasco Paiva.

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Jacob Lewis Gallery

Descontrução de ambientes

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Jacob Lewis Gallery

A exposição dá continuidade ao projecto que Paiva desenvolveu no início do ano no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC), em Lisboa, onde o foco era a modificação de objectos através de uma viagem: "Eram objectos que viajaram de Hong Kong para Lisboa, sem estarem devidamente protegidos e que, durante a viagem, foram 'danificados', gravando em si todas as acções a que foram sujeitos [durante o transporte]. Neste caso, o processo tornou uma nova vertente, os objectos são estáticos e são submetidos às acções de uma série de 'performers'".

O artista inspira-se nos trabalhos de Michel de Certeau e Iain Border, onde se questiona a utilização e alteração por meios alternativos do espaço quotidiano, por parte do indivíduo. No centro do seu trabalho, encontra-se um interesse pela desconstrução de complexos ambientes urbanos, para criar um conjunto de códigos identificáveis, como se fosse um alfabeto urbano universal.

João Vasco Paiva licenciou-se em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes do Porto e obteve um mestrado na City University de Hong Kong. Bolseiro da Fundação Oriente, de 2006 a 2008, leccionou na City University de Hong Kong e fez apresentações em universidades dos Emirados Árabes Unidos e Reino Unido. Expõe intensivamente desde 2008, tendo já realizado exposições em Zurique, Brisbane, Hong Kong, Seoul, Roterdão, Berlim, Nova Iorque, Londres, Pequim, Moscovo e São Paulo, entre outras cidades.

Em 2015, foi seleccionado para a Art Basel de Hong Kong e completou uma residência nos Lichtenberg Studios, em Berlim. Nos EUA, já tinha participado em duas exposições colectivas (no Independent Curators International e no Dumbo Arts Festival), mas é a primeira vez que tem a oportunidade de desenvolver um projecto individual, nesta escala. "É um mercado que me fica a conhecer agora, a exposição também coincide com a abertura de duas feiras de arte: a Frieze New York e a NADA. Há muita gente a passar pela cidade e isso dá-me maior visibilidade", explica.

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