A identidade de género é uma imposição social, não é?

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"Quando conheci BJ, ele usava vestidos em casa e era uma pessoa muito reservada", contou ao P3 a fotógrafa americana Lissa Rivera. O seu projecto, "Beautiful Boy", nasceu de uma confissão entre os dois: BJ tinha dúvidas relativamente à sua identidade de género. "Na faculdade, assumi-me como 'genderqueer', no terceiro ano vestia exclusivamente roupas de mulher", explicou BJ ao P3. "Apesar da minha aparente autoconfiança, debatia-me muito sobre o reflexo da minha aparência na minha identidade. Depois da faculdade perdi toda a confiança." Lissa, perante a confissão de BJ, propôs imediatamente que desenvolvessem juntos um projecto fotográfico sobre o tema. "Era apenas um jogo e não esperava que fosse ajudar-me", confessou BJ. "Mas acabou por revelar-se uma experiência incrível." A intimidade entre os dois cresceu durante as sessões fotográficas e acabaram por apaixonar-se. Hoje, além de colaborarem no projecto "Beautiful Boy", mantêm uma relação amorosa. "Diante da câmara consegui abrir-me. Ser fotografado é uma experiência bela e melindrosa. Comecei a entender que a minha feminilidade era uma parte importante de mim, mas que era fluida e fantasiosa e não fundamental ou fixa." Sobre a origem da identidade de género 'per se', Lissa e BJ estão de acordo. Lissa crê que se trata de uma imposição social, BJ acredita que tal conceito pode nem ser muito relevante na vida das pessoas. "Não acredito que a identidade seja algo estático; acredito que as pessoas optam por uma orientação, que têm fantasias e experiências que evoluem e se alteram com o tempo, sob influência da cultura em que se inserem, da ideia de quem são e de quem desejam ser", esclarece. "Por vezes, o género não é uma parte importante da sexualidade." Lissa e BJ sentem-se livres dentro do seu relacionamento. Não existem expectativas no que toca ao papel que devem representar. "Ter uma identidade de género não-tradicional faz com que nos possamos afastar do lado negativo dos relacionamentos tradicionais, em que o homem e a mulher assumem papéis pré-definidos", esclarece BJ. Lissa completa: "Dentro da relação, posso apenas ser eu própria".