Milão, 2 de abril de 2016: voltou, depois de uma longa interrupção, a Trienal, a XXI Trienal, e voltou em grande. Não é que nestes anos não se tenha feito cultura projetual em Milão, mas entretanto multiplicaram-se os eventos durante a sempre mais intensa Semana do Design. A Trienal voltou a propor e a confrontar-se com as várias relações do design na lógica da “nova dramaturgia do projeto”.
No Museu da Ciência e da Tecnologia Leonardo da Vinci, está presente Portugal, para nos falar da cultura do habitar e do design, mas sobretudo de Objects After Objects, de objetos depois do objeto, de "reinvented objects" e de uma "reinvented city". E não existiria lugar mais adequado para falar de Design After Design, de objetos além de objetos, do que este espaço museológico onde os objetos recolhidos, dos mais simples até aos mais complexos, adquirem o valor simbólico de documento além do valor do uso para o qual foram projetados e produzidos, em plena coerência com a instalação apresentada pelo Governo de Portugal e realizada pela ESAD/Escola Superior de Artes e Design, com Matosinhos sempre presente como cidade do Design.
A exposição Objects After Objects acolhe-nos com o Extemporary Capsule, uma construção em madeira e cortiça preta que é quase uma porta de passagem para o mundo do "after design", que nos permite entrar em sintonia e conseguir entender a linguagem utilizada, relembrando-me antigas práticas atávicas presentes na cultura portuguesa. Depois desta passagem através de, acede-se a Objects After Objects, desde logo compreendendo que se fala de design e de habitar. A passagem coloca-nos na condição de poder compreender as linguagens, as formas, as experiências, os testemunhos e o desenvolvimento das realidades propostas em The Reinvented Object, em New Practices in Design, em New Practices in Architecture, além dos 13 Habitats que falam do design e do habitar, pessoal, com vídeo-projeções de diferentes entrevistas.
É-nos mostrado também como os objetos podem adquirir, além do seu valor formal e depois de reinventados, valores simbólicos (interessante o uso da cortiça preta do projeto de Raul Cunca). Exemplos que são expostos em ilhas quase suspensas, demarcadas por formas circulares luminosas que relembram o conhecido cirro de Lucio Fontana (agora no Museu do 900 de Milão) da IX Trienal de 1951, altura em que se começava a falar de desenho industrial e de design, quase em contraposição ao Design After Design de hoje.
Os exemplos citados dialogam indiretamente, pelas amplas janelas, com um modelo paradigmático de Object After Object, o submarino Enrico Toti, um enorme peixe fora d’água estacionado no exterior dos pavilhões do museu, que depois de ter navegado nos mares, encontra-se como "after objet", testemunhando tecnologias e tensões do passado em relação com espaços outros.
Sempre com atenção no depois, Portugal fala também de arquitetura em Porto After Porto, que apresentou na Biblioteca do Palazzo dell’Arte o projeto do Matadouro. Mas sobretudo são as relações entre arte, arquitetura e design, do design português de excelente qualidade. Considerando o meu interesse e a minha atenção em relação a Portugal, e como tive ocasião de dizer há alguns anos atrás numa entrevista a uma revista portuguesa, “o design português é ótimo, mas tem de ser divulgado fora dos seus âmbitos para poder ser apreciado”.
Agora, com o suporte de entidades, da escola, do estado e das indústrias de Portugal, é possível conhecer a elevada qualidade projetual intrínseca do Depois Design Português, numa visão futura.
O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico