Situação na Síria está "fora de controlo", admite John Kerry

O secretário de Estado americano disse que em Genebra se trabalhará "24 sobre 24 horas, sete dias por semana" para salvar o cessar-fogo.

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Ataque áreo contra o bairro de al-Kalasa, em Alepo, a 28 de Abril AMEER ALHALBI/AFP

Enquanto em Alepo o Governo sírio lançava ataques aéreos e terrestres contra os rebeldes, em Genebra, o chefe da diplomacia americana tentava salvar um cessar-fogo que tarda em ser respeitado. A situação está “fora de controlo”, afirmou John Kerry.

“Ambos os lados, a oposição e o regime, contribuíram para este caos, e vamos trabalhar intensamente nas próximas horas para tentar impor o fim das hostilidades”, disse Kerry aos jornalistas depois de conversações em Genebra com o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, e o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid al-Moallem, entre outros responsáveis. Mas admitiu que "sob vários aspectos, a situação está fora de controlo e é profundamente perturbadora".

Kerry quer ver o cessar-fogo a ser cumprido em Alepo, a cidade que nas últimas semanas tem sido fortemente atingida pelos confrontos. “Estamos a chegar mais perto de um entendimento”, afirmou, citado pelo New York Times. “Mas ainda temos trabalho pela frente e é por isso que aqui estamos”.

As tréguas acordadas em Fevereiro, com mediação da Rússia e EUA, estão longe de ser uma realidade nesta cidade, que antes da guerra era um importante pólo comercial e cultural do país. O regime sírio bombardeou deliberadamente três clínicas e um grande hospital, matando médicos e pacientes. “O ataque a este hospital é inimaginável”, comentou o chefe da diplomacia de Washington.

Mais de 250 civis, incluindo cerca de 50 crianças, perderam a vida desde o intensificar da violência, a 22 de Abril, a maioria em raides aéreos. Cerca de dois terços das vítimas estavam no lado da cidade controlado pelos rebeldes. Mas na semana passada, também houve disparos de morteiros contra bairros residenciais que estão nas mãos das forças governamentais.

Sem prometer progressos, Kerry adiantou que “a Rússia e os Estados Unidos concordaram que haverá mais pessoal a trabalhar em Genebra, 24 sobre 24 horas, sete dias por semana, para garantir que há mais capacidade de aplicar” o cessar-fogo. “Estamos a preparar um mecanismo melhor, mas ainda precisamos de vontade política”, adiantou, sem especificar.

Segundo o New York Times, um dos entraves está a ser, aparentemente, a falta de vontade de Moscovo de impor ao Governo sírio o fim dos bombardeamentos aéreos contra as zonas controladas por rebeldes – alguns dos quais apoiados pelos EUA e seus aliados. O regime insiste que o seu único alvo são os membros da Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria, que tem apenas uma pequena presença na cidade. Kerry irá pedir também aos vários grupos rebeldes que se demarquem da al-Nusra.

De acordo com a Associated Press, Washington está a considerar criar um mapa delimitando zonas de protecção nas quais civis e membros moderados da oposição possam refugiar-se dos ataques das forças governamentais. Não é totalmente claro se a Rússia aceitará o plano ou se conseguirá convencer o Presidente sírio a respeitar essas áreas, adianta o NYT. “Um acordo desse género dificilmente ajudará quando os vários lados não conseguem concordar sobre quais são as violações que os observadores devem procurar”, escreve o jornal.

Para o enviado das Nações Unidas, De Mistura, o “milagre” das tréguas “tornou-se demasiado frágil”, e é preciso encontrar uma solução para reduzir a violência e permitir a abertura de uma nova ronda negocial em Genebra. O terceiro encontro, entre 13 e 27 de Abril, terminou com os representantes da oposição a deixar a sala em protesto contra a degradação da situação humanitária e das violações ao cessar-fogo.

 

 

 

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