Polémica sobre anti-semitismo abala Labour a dias de importante teste eleitoral

Sadiq Khan, favorito à vitória em Londres, admite que declarações de Livingstone poderão ter consequências no resultado das eleições de quinta-feira

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Khan poderá tornar-se dentro de dias o primeiro autarca muçulmano de uma grande cidade europeia Stefan Wermuth/Reuters

A poucos dias de um importante teste eleitoral, o Partido Trabalhista britânico debate-se para sair da tempestade desencadeada pelo antigo mayor de Londres Ken Livingstone, suspenso na semana passada depois de ter dito que Hitler foi em tempos defensor do sionismo. Sadiq Khan, favorito a ocupar o cargo que até 2008 foi de Livingstone, já admitiu que a polémica pode reduzir as suas hipóteses de vitória na quinta-feira.

As eleições – locais em Inglaterra, autónomas no resto do país – são o primeiro grande teste para Jeremy Corbyn desde que, em Setembro do ano passado, foi eleito líder dos trabalhistas. Mas as sondagens não são muito auspiciosas, apontando para uma perda acentuada de lugares no parlamento escocês, uma redução da maioria no País de Gales e ganhos pouco significativos nas autarquias inglesas. O único alento para Corbyn é a anunciada reconquista de Londres, que o Labour perdeu há oito anos para Boris Johnson, com as sondagens a darem a Khan uma clara vantagem sobre o rival conservador, Zac Goldsmith que, em alguns casos, chegam aos 20 pontos percentuais.

Mas a campanha eleitoral – a decorrer em simultâneo com a contagem decrescente para o referendo à União Europeia, a 23 de Junho – passou para segundo plano quando, na quinta-feira, o antigo mayor decidiu sair em defesa de uma deputada muçulmana que tinha sido suspensa por anti-semitismo e, a meio de uma entrevista, disse que “Hitler era um sionista favorável à criação de um Estado de Israel, mas depois enlouqueceu e matou seis milhões de judeus”.

Perante a avalanche de comentários, Corbyn suspendeu também Livingstone e ordenou um inquérito para apurar se há sectores no Labour complacentes com o anti-semitismo. Mas a polémica está longe de terminar: sábado, numa outra entrevista, Livingstone (que em 2006 esteve prestes a ser suspenso do cargo de mayor depois de ter insultado um jornalista judeu) recusou pedir desculpas e, já neste domingo, a deputada Dianne Abbott, uma das principais aliadas de Corbyn, afirmou que as acusações de anti-semitismo não passam de uma campanha de “difamação” contra o Labour.

Distanciando-se destas posições, Sadiq Khan reconheceu numa entrevista ao jornal Observer que “os comentários de Ken Livingstone tornaram muito mais difícil que os londrinos de fé judaica achem que há lugar para eles no Partido Trabalhista”. Um risco maior quando Khan acredita que a vantagem que detém sobre Goldsmith é bem menor do que as sondagens indicam.

O candidato, filho de um motorista de autocarro paquistanês e advogado especialista em direitos humanos, poderá tornar-se dentro de dias o primeiro autarca muçulmano de uma grande cidade europeia – um factor que os conservadores têm usado sub-repticiamente contra ele, acusando-o de ter participado nos últimos anos em vários encontros em que estiveram também presentes imãs radicais. Se for eleito, afirmou no domingo, “vou continuar a fazer o que sempre fiz, que é falar com toda a gente”, muçulmanos ou judeus.

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