Trump, o outsider?

Donald Trump não é um político. Antes das eleições, nem sequer afiliação partidária tinha

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Brendan McDermid/Reuters

Quando começaram a surgir os primeiros candidatos às presidenciais americanas, a ideia com que qualquer pessoa ficava era a de que seria mais do mesmo. Duas coisas eram dadas como certas. Hillary Clinton seria a candidata nomeada pelo Partido Democrata e Jeb Bush o nomeado pelo Partido Republicano. Comentadores políticos e humoristas norte-americanos faziam muitas vezes a pergunta “qual das dinastias queremos ver novamente no poder?”. Ficavam também espantados sempre que aparecia um novo candidato porque, segundo eles, era perder tempo. Lembro-me, por exemplo, de ver uma reação destas, por parte de Jon Stewart, quando surgiu o anúncio de candidatura de Bernie Sanders.

Jeb passou à história. Sendo ele, desde o início da campanha, visto como o candidato do chamado “regime” e com mais chances de vencer a nomeação, não demorou muito até que passasse a alvo da máquina trituradora que é Donald Trump. E este não descansou. Não houve um único debate em que Jeb não fosse torturado do princípio ao fim e que Trump não lhe fizesse colar a imagem do “low energy”. A popularidade de Jeb não resistiu à tortura retórica de Trump e estava assim eliminado um dos candidatos do “regime”. E eis que o “regime” encontra um novo candidato em Marco Rubio. Mas o “Little Marco”, como o apelidou Trump, também não aguentou muito tempo e agora o Partido Republicano espera desesperadamente que o candidato odiado por todos seja o nomeado.

Não é novidade. Ted Cruz não tem muitos fãs, nem mesmo no próprio partido. Quando anunciou a candidatura, foram várias as vozes que manifestaram o seu desagrado com o senador do Texas, desde colegas do Senado, amigos de infância e até alguns familiares. Lindsey Graham, ex-senador pelo estado da Carolina do Sul e apoiante da campanha de Jeb Bush, disse que se arrepiava só de pensar em Ted Cruz. No entanto, em entrevista a um programa matinal da CBS no início de Abril, apelou a que todos os republicanos o apoiassem pois a alternativa seria muito pior.

Neste momento, reina o terror no Partido Republicano. E tudo graças a alguém que vem de fora do mundo da política. Donald Trump não é um político. Antes das eleições, nem sequer afiliação partidária tinha. Aliás, não é segredo para ninguém que foi um grande apoiante de várias campanhas do Partido Democrata. No entanto, depois de uma série de seis vitórias consecutivas, Donald Trump encontra-se a escassos 250 delegados de garantir a nomeação pelo Partido Republicano, numa altura em que faltam apenas 10 estados irem a votos, o que equivale a 583 delegados.

Dos dez estados que faltam, seis são do tipo "winner-takes-all", ou seja, os delegados eleitos são atribuídos na sua totalidade a quem vence e não dependem da percentagem de votos que cada candidato obtém. Esses seis estados representam um total de 372 delegados, sendo o estado da Califórnia aquele com maior representatividade, elegendo 172. Os números favorecem Donald Trump e as últimas sondagens dizem o mesmo.

Ted Cruz é assim a última esperança para os republicanos de conseguirem uma "brokered convention". Se nenhum dos candidatos atingir os 1237 delegados necessários para garantir a nomeação, o nomeado será escolhido na convenção do Partido Republicano. A convenção, a realizar-se em Cleveland no mês de Julho, marca o fim das primárias. No caso de uma "brokered convention", todos os delegados eleitos, incluindo os que representam candidatos que já desistiram, são chamados a escolher o nomeado. Mas esse cenário vai-se tornando cada vez mais improvável. E a máquina de campanha de Donald Trump não dá sinais de abrandar…

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