União Europeia antevê "consequências muito sérias" para a Macedónia

Grave crise política no país afasta-o do processo de adesão. Comissário para o Alargamento criticou responsáveis do Governo e da oposição por não se reunirem em Viena, como estava programado.

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Milharesde pessoas manifestaram-se contra a decisão do Presidente Robert ATANASOVSKI/AFP
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A situação política na Macedónia está a degradar-se de dia para dia, com a União Europeia (UE) a avisar que o país poderá ter de enfrentar "consequências muito sérias". A declaração de força de Bruxelas foi feita esta quinta-feira, depois da anulação de um encontro entre o Governo e a oposição que estava marcado para sexta-feira, em Viena.

Como país candidato à adesão à UE, a Macedónia "tem de garantir o progresso da democracia e colocar-se no caminho euro-atlântico", advertiu o comissário responsável pela pasta do Alargamento, Johannes Hahn, num comunicado assinado em conjunto com os eurodeputados Richard Howitt, Eduard Kukan e Ivo Vajgl.

"Temos insistido na ideia de que a quebra do Acordo de Pržino terá consequências muito sérias para o país. Lamentamos profundamente o afastamento do país das suas aspirações de entrar na União Europeia. Na ausência de progressos, vemo-nos forçados a discutir outras medidas para cumprir as exigências claramente expostas pelo Conselho Europeu, pela Comissão Europeia e pelo Parlamento Europeu", lê-se no mesmo comunicado.

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia e antigo mediador da UE nas guerras da ex-Jugoslávia, Carl Bildt, partilhou a sua preocupação no Twitter: "Ao que parece, as negociações para resolver a crise política em Skopje falharam. O que se segue? Há motivos para preocupação."

O comissário para o Alargamento não explicou que outras medidas poderão ser discutidas, mas um responsável da UE que falou à agência Reuters sob a condição de anonimato disse que a Macedónia pode vir a ser alvo de sanções, dando como exemplos a proibição da entrada na UE e o congelamento de bens de alguns políticos macedónios.

"Estamos extremamente preocupados com as vistas curtas do actual Governo. A União Europeia está disposta a discutir sanções a políticos que estão a bloquear a resolução da crise. A Macedónia está a caminhar para o isolamento internacional", citou a agência Reuters.

A crise política na Macedónia agravou-se de forma substancial em 2015, quando o líder da oposição, Zoran Zaev, da União Social-Democrata (do centro-esquerda), revelou uma série de escutas telefónicas que implicavam o então primeiro-ministro e vários outros responsáveis de topo num esquema de controlo dos media, do sistema judicial e de outros sectores da sociedade.

Numa medida para tentar resolver a crise, a UE promoveu a assinatura do Acordo de Pržino no Verão passado, que previa quatro pontos essenciais – a entrada de ministros da União Social-Democrata no governo; o afastamento do então primeiro-ministro, Nikola Gruevski (do partido VMRO-DPMNE, da direita nacionalista e conservadora); a entrada em funções de um Governo de transição; e a criação de uma equipa especial para investigar as acusações contra 56 políticos e seus associados.

Os problemas começaram cedo, com divergências sobre a composição do Governo de transição e da equipa especial de investigação, mas o primeiro-ministro saiu do poder em Janeiro passado e parecia haver um caminho para a resolução da crise.

Mas na semana passada o processo sofreu um novo golpe, quando o Presidente, Gjorge Ivanov (também do partido VMRO-DPMNE) decretou a amnistia dos 56 políticos e seus associados que estavam a ser investigados, argumentando que esses processos não teriam fim e que o país precisa de seguir em frente.

O anúncio motivou duras críticas da União Europeia e levou milhares de pessoas para as ruas de Skopje e outras cidades, em protestos contra a medida do Presidente.

Em mais uma tentativa para voltar a acalmar a situação, a UE marcou um encontro para sexta-feira, em Viena, entre representantes do Governo e da oposição, mas estes fizeram saber que não aceitam dialogar enquanto o Presidente não recuar na amnistia e o presidente do Parlamento não desmarcar as eleições antecipadas – a data de 5 de Junho foi marcada sem que a oposição tivesse sido consultada.

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