Este Macbeth é a evitar

Shakespeare é um pretexto para servir de base a um grafismo da sanguinolência rebarbativo – e muito, mas muito, feio. O Macbeth de Justin Wurzel com Michael Fassbender, é a evitar com todo o cuidado.

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Fassbender tem uma gravitas natural, mas Marion Cotillard como Lady Macbeth é um erro de casting

Há coisas que são difíceis mas que, com algum esforço, se conseguem: por exemplo, desvitalizar por completo, ao ponto de o tornar exangue, um texto de Shakespeare. É a “proeza” de Justin Wurzel neste aborrecidíssimo Macbeth, que se (claro) não tem comparação possível com a melhor versão filmada da peça (a de Welles em 1948), também faz parecer as adaptações shakespeareanas de Laurence Olivier, sempre tão criticadas pelo seu academismo old school, prodígios de frescura e modernidade.

Mas em Welles, como em Olivier, como noutras boas adaptações, o texto não era só um texto – era um idioma, “o Shakespeare” tornava-se numa língua, a oralidade (mais natural ou mais artificial) era a energia vital que alimentava tudo. O idioma de Justin Wurzel é outro: é o visual, os efeitos (os ralentis, a fotografia enjoativamente escura, os banhos de cor ilustrativos – como os vermelhos para o sangue, oh que ideia original), a estética do filme de super-heróis aplicada à Escócia medieval, e nisto tudo é como se o filme tivesse vergonha do texto, o escondesse, o fizesse desaparecer nas interpretações super-sisudas, e no entanto estranhamente desafectadas, dos seus actores (Fassbender tem, ao menos, uma gravitas natural, mas Marion Cotillard como Lady Macbeth é um erro de casting). Não é um texto, é um pretexto, para servir de base ao “espectáculo” das cenas de batalha ou de violência, dadas num grafismo da sanguinolência inútil e rebarbativo – e muito, mas muito, feio. A evitar com todo o cuidado. 

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