Edição crítica de Mein Kampf entre os livros mais vendidos na Alemanha

Manifesto de Hitler regressou às livrarias a 8 de Janeiro e já encabeça a lista dos livros de não-ficção mais populares. Já vendeu 50 mil exemplares.

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Cópia da edição crítica de Meins Kampf numa livraria alemã Michael Dalder/Reuters

A notícia não é de estranhar, já que, no lançamento, no início de Janeiro, a procura já ultrapassava quatro vezes a oferta: a edição crítica de Mein Kampf (A Minha Luta), o manifesto de Adolf Hitler que está na base do nacional-socialismo, lidera a lista de livros de não-ficção mais vendidos na Alemanha, país que desde 1945 vetara a sua impressão.

A lista é publicada na Der Spiegel, revista semanal alemã de referência e de grande circulação.

A obra dividida em dois volumes e com quase 2000 páginas, preparada por uma equipa de investigadores liderada por Christian Hartmann e lançada pelo Instituto de História Contemporânea de Munique, foi a primeira edição autorizada pelo Governo da Baviera, que detém os direitos da obra desde a morte de Hitler, no fim da Segunda Guerra Mundial. Durante décadas temeu-se que uma maior circulação deste manifesto pudesse vir a alimentar os movimentos neonazis.

Embora nos últimos 70 anos não houvesse novas edições nas livrarias, Mein Kampf nunca viu a sua venda proibida, circulando em alfarrabistas de rua e online, e com excertos espalhados pela Internet. Em 20 anos – da sua primeira edição, em 1925 (a edição original também tinha dois volumes, saindo o segundo no ano seguinte), até à capitulação do III Reich, em 1945 – foram impressos mais de 12 milhões de exemplares, recorda agora o diário espanhol ABC, sublinhando que os direitos deste diário/manifesto – nele os pormenores biográficos cruzam-se com as linhas orientadoras da ideologia nazi -, que pertenciam ao Estado da Baviera, caducaram, de acordo com a lei alemã, no final de 2015 (70 anos após a morte do autor).

A tiragem inicial desta edição crítica que custa 59 euros foi apenas de 4000 exemplares, mas, segundo o diário El País, nas primeiras três semanas venderam-se logo 24 mil cópias (a primeira tiragem, aliás, esgotou-se em poucas horas, como se dos bilhetes para o concerto de uma banda rock de fama planetária se tratasse). Desde 8 de Janeiro que a procura persiste, tendo-se já vendido 50 mil exemplares desta edição que tem dezenas de contributos de historiadores.

“Estou absolutamente surpreendido com o interesse que o livro suscitou”, disse à Der Spiegel o director do Instituto de História Contemporânea de Munique, Andreas Wirsching, garantindo ter indícios de que quem compra os dois volumes são “académicos e leitores interessados em história. O livro não é divertido para os neonazis”.

O sucesso desta edição crítica é ainda mais surpreendente se levarmos em conta que, de início, as livrarias alemãs se recusaram a tê-la nos escaparates e só a vendiam aos clientes que a solicitassem. Nenhuma informação era dada a respeito por iniciativa própria.

Adolf Hitler começou a escrever Mein Kampf em 1924, quando cumpria pena em Landsberg, e terminou-a na sua casa nos Alpes da Baviera.

Na Alemanha, esta edição crítica alimentou um acalorado debate entre os que acreditam que deve ser estudada nas escolas, para alertar os alunos para os perigos de todo e qualquer extremismo político, e os que defendem que os jovens não devem ser expostos, em cenário algum, ao pensamento de Adolf Hitler.

Apesar das tentativas do Governo da Baviera para travar reedições fora da Alemanha, mal caducaram os direitos de autor elas começaram a aparecer um pouco por toda a parte. Portugal não é excepção. A da E-Primatur tem uma breve introdução de três páginas do politólogo António Costa Pinto.

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