A beleza do “bootstrapping”

O conceito de “bootstrapping” representa para os empreendedores uma forma de poderem iniciar e fazer crescer um negócio sem ter de recorrer a grandes investimentos iniciais

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Taylor Nicole/Unsplash

Hoje em dia, já existem várias formas de conseguir financiamento para transformar boas ideias em boas empresas. O empreendedorismo, felizmente, tornou-se algo tão democrático que, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos, já não existem desculpas para não se dar vida aquele projeto com o qual sempre sonhamos. Para além de democrático, o empreendedorismo desempenha um papel muito importante em economias como a nossa, constituídas maioritariamente por pequenas e médias empresas, pois cria empregos, riqueza e “know how”. Voltando ao financiamento e ao apoio das boas ideias, são muitas as soluções que existem hoje. Desde o já tão conhecido CrowdFunding ou investimento de empresas de capital de risco e "business angels", passando pelos muitos concursos e programas de aceleração, até ao famoso “family, friends and fools”, existem felizmente muitas e variadas opções.

Mas há uma em especial que fascina muitos empreendedores. Esse fascínio pode dever-se ao facto de nenhuma das opções que falei atrás serem as melhores para determinado tipo de negócio ou simplesmente porque realmente existe beleza em construir e fazer crescer algo a partir do nada. É ai que o “bootstrapping” entra e se apresenta como uma excelente opção para quem está disposto a dar aquela volta extra à pista e trabalhar um bocadinho mais todos os dias para dar vida a um projecto. Algo construído a partir do nada, que depois vai contribuir directamente para a vida das pessoas que fazem parte desses projectos e consequentemente para a vida do país.

O conceito de “bootstrapping” representa para os empreendedores uma forma de poderem iniciar e fazer crescer um negócio sem ter de recorrer a grandes investimentos iniciais, o que obriga o produto ou serviço a ser lucrativo logo desde o primeiro dia, mas também reduz os recursos que o empreendedor tem à sua disposição para o fazer. Se uma startup que recebe investimento já tem um caminho difícil para percorrer, uma empresa nascida em “bootstrapping” tem um caminho ainda mais árduo pela frente. E obviamente um pouco mais demorado também. Mas quer numa hipótese, quer noutra, a fórmula de sucesso é precisamente a mesma: tem obrigatoriamente que fazer dinheiro.

A diferença é que com um investimento normalmente é possível construir e desenvolver um produto ou serviço sem ter à partida o lucro e as vendas como principais objectivos (apesar de ser cada vez mais essencial ter desde o inicio presente o fator lucro), o que faz aumentar consideravelmente o risco, pois só o mercado é que pode dizer se o produto X ou o serviço Y fazem falta e dão dinheiro.

Ao invés disso, o “bootstrapping” obriga o empreendedor a pensar no lucro logo desde o primeiro mês e o risco é infinitamente mais baixo. Quando por exemplo criei a minha empresa, foi o dinheiro do projeto que fizemos para um dos nossos primeiros clientes que serviu para pagar o registo e a abertura oficial da empresa. A partir dai todos os custos mensais fixos da empresa tiveram que começar imediatamente a ser pagos com vendas, e portanto vender, conquistar novos clientes e tentar ser diferentes da concorrência foi desde o início tão importante como criarmos um produto/serviço de qualidade que traga valor acrescentado para o mercado.

Mas no fundo, qualquer que seja a opção que escolhida o importante é que se perca o medo de falhar, se aceite o empreendedorismo como algo que veio para ficar e não como uma moda passageira e sobretudo, mesmo que ao inicio seja só um "side-project", que se dê às boas ideias uma chance de virem ao mundo. 

Artigo escrito de acordo com o novo Acordo Ortográfico.

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