Como despachar um quebra-cabeças

O problema de Chronic é livrar-se de um quebra-cabeças – de uma intrigante personagem – que não teve engenho para resolver.

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Chronic de Michel Franco: o que faz correr Tim Roth?

O que faz correr Tim Roth?. Manutenção existencial: é um enfermeiro que cuida de forma meticulosa dos seus pacientes em fase terminal da vida. Chronic, do mexicano Michel Franco, é a intrigante crónica da sua (talvez) não existência. Há um filme que vem à memória: Alps (2011), de Yorgos Lanthimos, sobre um grupo de personagens que se substituíam aos defuntos junto dos familiares para aliviarem a sua dor, ficando por saber a razão por que simulavam, ficcionavam, porque coreografavam dessa maneira as suas emoções. Não tinham vida própria, o filme sim, e partia por ali acima ou por ali adentro a criar pequenos acontecimentos.

O problema de Chronic, filme em que passamos o tempo a tentar recompor os pedaços da existência de Roth, figura que se completa emocionalmente com as vidas dos outros, é que se deixa ficar preso ao deslindar de um enigma, agarrando o espectador a uma curiosidade, sim, colocando-o na admiração intrigada, também é verdade, mas nunca partindo, nunca descolando, insondável, intimidante, como Alps fazia – a nossa curiosidade é aquela que se surpreende com um conto do imprevisto, que é aliás como o filme se despacha no final, livrando-se de um quebra-cabeças que não teve engenho para resolver.

A propósito, os novos filmes de Lanthimos (A Lagosta) e da sua compatriota Athina Rachel Tsangari (Chavalier) podem ser vistos no próximo IndieLisboa, momento para observar como esta espécie de cinema dilema Rubik se reinventa ou se se dobra cada vez mais sobre o seu cubo mágico. 

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