FMI avisa que os riscos de um crescimento global "muito mais fraco" estão a aumentar

Previsões de crescimento mundial revistas em baixa. FMI prevê agora que a economia da zona euro vai abrandar este ano.

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Instituição liderada por Christine Lagarde está cada vez mais pessimista

Passados apenas três meses desde o seu último relatório, o Fundo Monetário Internacional (FMI) viu-se forçado esta quarta-feira a rever novamente em baixa as suas projecções para a economia mundial, antecipando um abrandamento na zona euro este ano e deixando um aviso: tudo poderá ser ainda pior se a instabilidade nos mercados financeiros regressar, a China falhar a sua aterragem suave e as economias avançadas como a da zona euro caírem na armadilha da deflação.

O tom das Projecções de Primavera agora divulgadas pelo Fundo dificilmente poderia ser mais sombrio. É verdade que ainda acreditam que a economia mundial pode crescer mais este ano do que no ano passado – 3,2% contra 3,1% -, mas os responsáveis do FMI colocaram as suas previsões para a maioria das economias do Mundo abaixo daquilo que tinha sido projectado no relatório intercalar publicado em Janeiro, um documento em que por sua vez já tinham sido feitas também diversas revisões em baixa.

O crescimento da economia mundial agora previsto de 3,2% em 2016 compara com os 3,4% previstos em Janeiro e os 3,6% apresentados nas Previsões de Inverno, feitas em Outubro. Para 2017, a previsão de crescimento também foi revista de 3,6% para 3,5%, quando em Outubro era de 3,8%.

A explicação dada para esta nova revisão das expectativas é o facto de se ter tornado ainda mais evidente nos últimos meses que há “realinhamentos macroeconómicos significativos que estão a afectar de forma diferenciada os países e as regiões”. Entre estes realinhamentos, o Fundo destaca o abrandamento e tentativa de reequilíbrio da China, a queda dos preços das matérias-primas como o petróleo que prejudicam grandemente os países produtores e a queda dos níveis de investimento e de comércio que tem vindo a acentuar os riscos de estagnação nas economias mais avançadas, como a Europa e os Estados Unidos.

Zona euro abranda

Por isso, são muito poucos os que escapam ao reforçado pessimismo do FMI. Para a zona euro, o Fundo passou mesmo a prever um abrandamento da economia, dos 1,6% de 2015 para 1,5% em 2016. Antes, em Janeiro, previa uma ligeira aceleração, para 1,7%. Em Outubro, apontava para 1,9%.

A revisão de 0,2 pontos percentuais para a zona euro é ditada principalmente com a deterioração das expectativas no mesmo nível para as duas maiores da região, a Alemanha e França. Mas as mudanças são semelhantes em praticamente todos os países, incluindo Portugal, para o qual o Fundo prevê um crescimento este ano de 1,4%, menos que os 1,5% de 2015. As previsões para Portugal são idênticas às que foram apresentadas na semana passada na terceira avaliação pós-programa feita ao país.

O FMI explica que o problema na zona euro é que “os efeitos da procura externa mais fraca são mais fortes do que os efeitos favoráveis da descida dos preços da energia, da modesta expansão orçamental e das melhores condições financeiras”, voltando a avisar para o risco que constitui a manutenção por um período de tempo tão longo de um cenário em que a taxa de crescimento da economia e a inflação permanecem a níveis tão baixos.

Para os Estados Unidos, a previsão de crescimento em 2016 passou de 2,6% em Janeiro para 2,4% agora, um valor que é igual ao registado em 2015. Um dos blocos económicos em que a revisão das previsões foi mais acentuada foi o Japão, para o qual o FMI prevê agora um crescimento de apenas 0,5%, contra 1% em Janeiro.

No que diz respeito aos mercados emergentes, os países que mais têm sido afectados com a queda dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, viram as suas previsões revistas em baixa. Na Rússia e no Brasil aponta-se para o prolongamento das recessões em 2016, com uma contracção das economias de 1,8% e 3,8% respectivamente. Para a China, a perspectiva melhorou ligeiramente face a Janeiro para 6,5%, ainda assim a taxa de crescimento mais baixa das últimas décadas.

Para Angola, que recentemente deu início a uma negociação do FMI para um pedido de ajuda financeira, prevê-se um crescimento de 2,5% este ano, acentuando o abrandamento que se tem vindo a registar desde 2013.

Riscos no horizonte

E, se as novas previsões já não positivas, o FMI faz questão de deixar claro que tudo poderá ser ainda pior. O relatório afirma que “aumentaram os riscos de um crescimento mundial muito mais fraco” e enuncia uma série de riscos que, a concretizarem-se, podem empurrar o Planeta para uma conjuntura bastante pior do que a actual.

Uma das principais preocupações é que a instabilidade dos mercados financeiros a que se assistiu no início deste ano regresse em força, algo que o FMI diz ser possível em resposta a algumas más notícias em economia importantes.

Depois o Fundo não está ainda confiante que a China seja capaz de garantir a aterragem suave da sua economia, no meio dos reequilíbrios difíceis que está a tentar concretizar. O FMI lembra que o peso que a China tem na economia mundial e principalmente nos fluxos comerciais significa que um acentuar dos problemas teria um impacto imediato e significativo no resto do Globo.

Outros riscos existem no resto das economias emergentes, muitas delas fortemente pressionadas com a descida dos preços das matérias-primas. A Rússia e o Brasil são dois países onde esta ameaça é mais evidente.

Nas economias denominadas como mais avançadas também são detectados riscos. O FMI mostra-se preocupado com a possibilidade de concretização de um período de crescimento fraco, em que o investimento e os fluxos comerciais evitam uma retoma das economias. Neste capítulo, a zona euro está particularmente vulnerável, sendo também uma região onde é maior o risco de adopção de políticas mais viradas para os interesses nacionais, avisa o FMI.

O Fundo está preocupado com o regresso a uma estratégia proteccionista dos países em resposta à percepção pela população de que a globalização está a ser aproveitada de uma forma muito desigual.

As soluções defendidas pelo Fundo para a Europa são as mesmas de relatórios anteriores: a continuação de uma política monetária expansionista, a realização de reformas estruturais e a aplicação de políticas orçamentais expansionistas pelos países que tenham espaço de manobra para isso.

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