Espião norte-coreano desertou para a Coreia do Sul

Segundo as autoridades sul-coreanas, o coronel trabalhava no Gabinete de Reconhecimento, uma agência de espionagem norte-coreana, antes de pedir asilo no país vizinho no ano passado. Deserção de altas figuras do regime de Kim Jong-un é bastante rara.

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As deserções de altas patentes do Exército da Coreia do Norte são extremamente raras. REUTERS/KCNA

Um coronel norte-coreano, especialista em espionagem, desertou para a Coreia do Sul no ano passado, revelou esta segunda-feira a agência sul-coreana Yonhap, citando fontes governamentais. Antes de desertar, o militar terá divulgado detalhes das suas operações às autoridades sul-coreanas.

Os ministérios da Unificação e da Defesa da Coreia do Sul afirmaram na segunda-feira que o coronel pediu asilo político e que trabalhou no Gabinete de Reconhecimento antes de chegar a Seul, segundo a Reuters. Este gabinete é especializado em actividades de espionagem contra a Coreia do Sul e é conhecido por ter uma equipa de especialistas que conduzem ataques informáticos de forma a sabotar ou obter informações dos países inimigos.O líder desta agência, Kim Yong-chol, é acusado pela Coreia do Sul de ser o responsável por um ataque com torpedo em 2010, que afundou um navio militar sul-coreano e resultou na morte de 46 pessoas. A Coreia do Norte desmentiu o seu envolvimento no ataque.

Existem relatos ocasionais de soldados norte-coreanos que desertam do país, mas a fuga de coronéis para o Sul é muito incomum. Até à data, o mais alto oficial norte-coreano que desertou para a Coreia do Sul era Hwang Jang-yop, membro do Partido dos Trabalhadores da Coreia que foi um dos ideólogos do regime a partir de 1958. Em 1997, fugiu da embaixada norte-coreana em Pequim para o consulado da Coreia do Sul, onde pediu asilo. Morreu em 2010.

A notícia da deserção do coronel, cujo nome ainda não foi divulgado, surge dias depois de Seul ter confirmado que 13 norte-coreanos que trabalhavam num restaurante gerido por Pyongyang no estrangeiro desertaram para a Coreia do Sul. As autoridades sul-coreanas ainda não confirmaram o país onde estas 13 pessoas trabalhavam, mas os media do país avançam com a informação de que seria a China.

Existem cerca de 130 restaurantes norte-coreanos espalhados por 12 países, a maior parte deles na China, na Rússia, no Camboja, na Mongólia e no Vietname. Na Europa, o único restaurante existente abriu em 2013, em Amesterdão. Os lucros obtidos são depois enviados para uma organização em Pyongyang, conhecida como o "Gabinete 39", para financiar actividades do regime, segundo informações da BBC.

Desde o final da Guerra da Coreia (1950-53), mais de 29 mil norte-coreanos desertaram para a Coreia do Sul, de acordo com os números do Governo de Seul. As suas motivações são sobretudo a vontade de fugir à pobreza e ao duríssimo sistema político norte-coreano.

As deserções são um dos temas de maior discórdia entre os dois países, sendo que Pyongyang acusa Seul de incentivar os cidadãos norte-coreanos a desertar, acusação que Seul nega. Para a maioria dos norte-coreanos é praticamente impossível fugir do país, uma vez que as fronteiras estão fortemente vigiadas e poucas pessoas têm acesso aos meios necessários para financiar a fuga.

Os que tentam fugir normalmente optam por atravessar a fronteira com a China, para tentarem depois chegar a um terceiro país. Mas, se forem descobertos, correm o risco de serem reenviados para a Coreia do Norte, onde enfrentam punições bastante severas.

As relações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul encontram-se numa situação de bastante tensão, nomeadamente devido aos cada vez mais frequentes testes balísticos protagonizados por Pyongyang: em Janeiro o regime de Kim Jong-un afirmou ter testado a sua primeira bomba de hidrogénio e nos últimos meses tem lançado para o mar mísseis balísticos de curto, médio e longo alcance.  

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Notícia editada por Rita Siza

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