O dia em que Eusébio jogou em Bagdad… e Azeredo Perdigão “venceu” Le Corbusier

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Desenho de Le Corbusier para o Estádio de Bagdad Arquivo Guillaume Jullian de la Fuente/Centro Canadiano de Arquitectura, Montréal © FLC/ADAGP
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Desenho de Le Corbusier para o Estádio de Bagdad Arquivo Guillaume Jullian de la Fuente/Centro Canadiano de Arquitectura, Montréal © FLC/ADAGP
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Maqueta do projecto do Estádio de Bagdad Arquivo Fundação Calouste Gulbenkian
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Estádio de Bagdad em construção Arquivo Fundação Calouste Gulbenkian
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Estádio de Bagdad em construção Arquivo Fundação Calouste Gulbenkian
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Eusébio e Azeredo Perdigão com a Selecção Nacional do Iraque, em 1966 Arquivo Fundação Calouste Gulbenkian

Passados pouco mais de três meses sobre a meritória participação portuguesa no Mundial de Futebol de 1966, em que Eusébio se afirmou o melhor marcador e uma das figuras maiores do torneio, a equipa do Benfica apadrinhou, no dia 6 de Novembro, a inauguração do Estádio de Bagdad, no Iraque. Defrontou a selecção nacional do país, e o resultado foi uma vitória da equipa portuguesa (2-1) com um bom desempenho, mas sem golos, do “Pantera Negra”, tendo estes sido marcados por Torres e Cavém.

Contudo, o mais relevante desse episódio não é o resultado; é o que aconteceu nos anos anteriores, e que viria a justificar a presença do Benfica na capital do Iraque, já então uma república, instaurada após o derrube da monarquia do rei Faisal II, assassinado em 1958.

E se é importante lembrar que o Estádio de Bagdad, designado Al-Shaab (“Estádio do Povo”), foi projectado pelos arquitectos portugueses Francisco Keil do Amaral (autor do Clube de Ténis de Monsanto e do plano geral do Parque Eduardo VII) e Carlos Manuel Ramos (Estádio do Restelo), é-o ainda mais saber que esta “conquista” foi sabiamente gerida, nos bastidores, pelo presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, José de Azeredo Perdigão (1896-1993), e – mais ainda – que isso significou a “dispensa” de um projecto de… Le Corbusier (1887-1965).

O Estádio de Bagdad faz parte da selecção de Nuno Grande para a exposição Les universalistes em Paris, e a história da sua construção foi já recordada pelo próprio num artigo no Jornal Arquitectos (nº 250, Mai-Ago 2014). Aí se recorda como Azeredo Perdigão, gerindo as relações estabelecidas pela fundação criada por Calouste Gulkbenkian (1869-1955), o milionário arménio que detinha 5% da Iraq Petroleum Company, conseguiu sobrepor o projecto de Keil do Amaral/Carlos M. Ramos ao do então já famoso arquitecto que fora um dos fundadores do movimento moderno.

“Não há dúvida de que Le Corbusier é um arquitecto excepcional, mas com certeza que os seus serviços serão dispendiosos, porquanto são muito procurados por governos e municipalidades. Além disso, não há certeza de que se trate de um perito na construção de estádios”, escreveu Azeredo Perdigão, em Maio de 1958, ao embaixador português em Londres, Pedro Teotónio Pereira, pedindo-lhe que fizesse chegar esta mensagem ao ministro do governo do Iraque responsável pelo Desenvolvimento.

Entretanto, e desde que fora contactado pelos responsáveis iraquianos, em meados da década de 50, Le Corbusier elaborara sucessivos esquissos para um complexo desportivo que incluiria um estádio com 55 mil lugares, pavilhão coberto, campo de voleibol, piscinas e campos de ténis… com a forma de uma “tartaruga” no centro do empreendimento.

Após meia dúzia de anos de contactos cruzados, o projecto português haveria de sair vencedor, e o estádio de Keil do Amaral/Carlos M. Ramos foi inaugurado em 1966, pouco mais de um ano após a morte de Le Corbusier.

 

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