Pais e antigos alunos dizem que não há discriminação no Colégio Militar

Associações emitem comunicado onde criticam “esdrúxulo aproveitamento de uma certa comunicação social” e dizem que é preciso “especial atenção na gestão do tema dos afectos”.

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O general Carlos Jerónimo invocou razões de ordem pessoal para querer deixar o cargo Daniel Rocha

Os antigos alunos e os pais e encarregados de educação do Colégio Militar rejeitam que haja discriminação dos alunos homossexuais naquela instituição e lamentam a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME).

O general Carlos Jerónimo invocou razões de ordem pessoal para querer deixar o cargo, mas na origem do pedido de demissão, apresentado quinta-feira pelo próprio, poderá ter estado uma polémica relacionada com a exclusão de alunos homossexuais do Colégio Militar.

O subdirector do estabelecimento de ensino, tenente Coronel António Grilo, tinha declarado ao jornal Observador no início do mês que nas situações de afectos homossexuais era hábito os responsáveis do Colégio Militar falarem com os encarregados de educação, para que estes percebessem que os filhos tinham “perdido espaço de convivência interna” e teriam, a partir desse momento, “grandes dificuldades de relacionamento com os pares”.

“Lamentando profundamente essa demissão”, diz a direcção da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar (APEEACM) e a direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM). Ambas “não podem deixar de secundar as palavras do senhor Presidente da República quanto aos relevantes serviços prestados pelo General Carlos Jerónimo, merecendo-lhes um especial destaque a forma altamente meritória como tutelou o Colégio Militar”, lê-se num comunicado enviado à agência Lusa.

No documento conjunto, as duas associações realçaram ainda o trabalho desenvolvido pela direcção do Colégio Militar na “cuidada implementação de acções no sentido de contrariar eventuais preconceitos e promovendo soluções de integração na família colegial, como bem o demonstram os Projectos de Pedagogia Inclusiva entretanto desenvolvidos”.

“A sua acção é, portanto, digna de nota e não será maculada pelo esdrúxulo aproveitamento de uma certa comunicação social, que — estranhamente — parece esquecer que, face à especificidade do ambiente formativo, se exige especial atenção na gestão do tema dos afectos”, lê-se no comunicado.

As associações frisam ainda que o Colégio Militar “é e continuará a ser uma escola de valores, que promove a união, no respeito pela diversidade e identidade de cada um”.

O pedido de demissão do CEME ocorreu dois dias depois de o ministro da Defesa Nacional lhe ter pedido um esclarecimento a propósito de afirmações feitas pelo subdirector do Colégio Militar sobre discriminação dos alunos homossexuais.

Na reportagem publicada pelo Observador, o subdirector do Colégio Militar, afirmou: “Nas situações de afectos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que perceba que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos.”

Ouvido pelo Diário de Notícias, na sequência destas afirmações, o ministério da Defesa fez saber que pedira explicações ao CEME e assumiu que “considera absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação”.

Na quinta-feira à noite, o ministério da Defesa anunciou que tinha já iniciado os “procedimentos adequados” visando a substituição de Carlos Jerónimo. Na mesma nota, o ministro da Defesa manifestou “o seu apreço e consideração pessoal e profissional” pelo CEME, que estava no cargo havia dois anos.

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