Tanto barulho por nada

Com o ridículo orçamento para a área, duvido que alguém aceite para ter uma linha de acção, seja a que for.

Meu caro Augusto M. Seabra,

Não compreendi o desacato com o ministro da cultura. V. sabe, tão bem ou melhor do que eu, que, tirando raríssimos e episódicos momentos, não há, nem houve, na tutela ou nos programas dos partidos, nenhuma linha de acção, estratégia ou pensamento sobre a cultura em Portugal. E sabe V. também que a dança das cadeiras não só é a prática comum da tutela, como é a única que desperta a atenção das oposições ou parceiros. Haja Deus! Porque se havia de lembrar de o escrever a propósito de um ministro sem ministério, como era o outro secretário de Estado sem secretaria? Isto é tudo velho. Não espere por novos tempos para a cultura. Aposto que ninguém a discutiu para acordos.

Com franqueza, meu caro! Se a cultura tem sido tratada com os pés, que mal tem passar a ser com as mãos? Se já estamos habituados a levar pontapés, faz-lhe assim tanta diferença levar bofetadas?

A questão substantiva que levantou já está esquecida. E com o ministro a sair a cultura voltará ao seu limbo parlamentar, editorial, social. Não tem nada de sensacional. A inexistência de uma linha de acção é indiferente. Quer para os que “quando ouvem falar de cultura rapam do Orçamento”, como o outro disse no Porto; quer para os da gritaria de 1% para a cultura, sem se saber para quê e porquê!

Ó meu caro Augusto M. Seabra, deixe-os para lá a dizerem o que lhes apeteça. O que foi e o que venha. Com o ridículo orçamento para a área, duvido que alguém aceite para ter uma linha de acção seja a que for. Só por muita distracção ou ingenuidade. Não é para isso que será nomeado. É só um enfeite.

V. e todos os que teimosamente pensam A cultura pertencem a uma espécie em vias de extinção. É indiferente o que este disse ou não disse, fez ou não fez. Porque para ele(s) também é indiferente o que V., e outros  como V., dizem ou não dizem, fazem ou não fazem. Eles não ouvem porque não percebem, não percebem porque não ouvem. Ou melhor: não houvem, só haviam. Aviam o que não ouvem.Me

Encenador, castroguedes9@gmail.com

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