Santander tentou negociar Banif com o Governo anterior

A ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque diz que foi surpreendida com a resolução do Banif. Garante que nenhum plano de reestruturação do banco foi chumbado por Bruxelas e que havia "tempo" para colocar a instituição à venda e evitar perdas para os contribuintes.

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Nuno Ferreira Santos

A ex-ministra das Finanças do anterior Governo começou a sua intervenção na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao Banif com um aviso: estava ali para corrigir “informações falsas" e "interpretações erradas". O seu objectivo: "repor a verdade”. Maria Luís Albuquerque informou que, quando terminou o seu mandato, em Novembro de 2015, não estava "a discutir com a Comissão Europeia uma resolução", estava "a discutir uma restruturação", para uma venda posterior. A agora deputada do PSD adiantou nas suas respostas na CPI que "o cenário era o de fazer aprovar o plano de reestruturação do banco em 2016 pela DGComp", para o depois abrir um concurso público para o vender. E acredita que se o processo tivesse sido este o desfecho teria sido diferente. 

"Temos ouvido repetidamente que houve oito planos de reestruturação chumbados pela Comissão Europeia, o que não é verdade", garantiu. O que "houve foram oito versões de planos" e a Direcção-Geral da Concorrência (DGComp) "não aprovou nem chumbou" nenhum. Maria Luís Albuquerque alega que "havia tempo" para encontrar uma solução menos onerosa para os contribuintes [que arriscam perder mais de 3000 milhões]. O Banif tinha até 2017 para devolver as ajudas do Estado e "o calendário da DGComp" não previa decisões até final de 2015.

A deputada social-democrata assegurou que desde o primeiro minuto teve um objectivo: "recuperar o dinheiro" que o Estado injectou na instituição - dos 1100 milhões, tinham sido recuperados 275 milhões. "Quando deixei o Governo" o Banif estava "melhor" do que quando "foi intervencionado" e nada fazia prever um desfecho com este custo para os contribuintes." 

Maria Luis Albuquerque deixou criticas à DGComp, que se revelou "mais negativa" para com o Banif do que foi para  os três bancos nacionais que pediram ajuda ao Estado (CGD, BCP e BPI). "A Comissão Europeia comporta-se como todas as administrações públicas" e "é importante para a DGComp mostrar serviço, mostrar que está atenta e que está a actuar". 

E não poupou o Banco de Portugal. Conta que a "carta" que lhe foi enviada pelo supervisor, a 17 de Novembro, a pedir nova injecção de verbas públicas no Banif, foi "estranha" por ser "súbita" e por estar a apontar para uma solução rápida. "Fiquei desagradada" por ir ter um custo muito elevado para os contribuintes um custo. "Daí a minha discordância que manifestei na carta que enviei" ao Banco de Portugal (BdP) "como resposta".  

Em resposta a João Almeida, do CDS, a ex-ministra das Finanças revelou que o Santander já tinha manifestado interesse em comprar o Banif, ainda no mandato do Governo anterior: "Tive de facto uma reunião com o Santander, em que me informou que estaria interessado no Banif, mas só após a reestruturação, sem os activos não rentáveis."

O deputado do CDS, que questionava a forma como o Banco de Portugal se referia às "imposições" de Bruxelas no dossiê Banif, rematou a sua ronda de perguntas com uma frase crítica para Carlos Costa, que foi quem conduziu a resolução e o processo de venda, em 20 de Dezembro, ao Santander: "O processo acabou com a imposição de um comprador único: o Santander."

 

 

 

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