Moçambique, a musa de Filipe Branquinho

Filipe Branquinho leva a Lisboa "Paisagens Interiores", projecto que retrata cenários de Maputo, cidade onde cresceu. Está em exposição até Junho, na Galeria Av. das Indias, em Lisboa

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Depois de “Ocupações” é a vez de “Paisagens Interiores” ter lugar nas galerias de Lisboa – e do mundo. Filipe Branquinho, jovem fotógrafo e artista plástico, mostra numa compilação de vinte e quatro fotografias as memórias que os edifícios de Maputo ainda concentram em si.

Nascido e criado na cidade moçambicana, o fotógrafo está em contacto com o mundo artístico desde muito jovem. “Estive desde sempre ligado à fotografia. Cresci num meio de fotojornalistas com nomes como o Ricardo Rangel. O meu pai também era jornalista, nutria algum gosto pela fotografia e, de certo modo, passou-me isso”, conta Filipe ao P3.

Apesar de andar de mãos dadas com a máquina fotográfica, a Arquitectura também conquistou um lugar na sua vida. “Fui para o Brasil estudar Arquitectura. No entanto, nunca parei de fotografar” garante. “No fundo, a Arquitectura e a Fotografia são duas disciplinas que convergem. Olho para as estruturas e vejo mais do que aquilo que aparentam ser. Não são só edifícios, casas velhas a precisarem de pintura. Consigo parar e ver mais, em grande parte, por causa da Arquitectura”.

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Explica ao P3 que os dois projectos (“Ocupações” e “Paisagens Interiores”) começaram ao mesmo tempo (2011) e, apesar do primeiro se tratar de retractos ambientais e do segundo de edifícios pouco usados da cidade de Maputo, ambos transportam vestígios do tempo. “O meu objectivo não é só mostrar o que está à vista. Em Paisagens Interiores quero mostrar que os edifícios têm memórias, momentos, acontecimentos dentro delas e eu quero preservá-los” daí a inexistência de pessoas ser propositada nas suas fotografias. 

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Na exposição que inaugurou, no passado dia 29 de Março e que se estende até Junho, na Galeria Av. da India, em Lisboa, estão presentes as vinte e quatro fotografias que mostram, essencialmente, lugares históricos de Maputo como teatros, escolas, farmácias, arquivos e rádios que agora estão à mercê da erosão do tempo pela falta de utilidade que lhes dão. “Maputo nem sempre foi bonito. No entanto, todos os espaços têm valor. É desses espaços que a história da cidade é feita, por isso, quero mostrá-la enquanto realidade. Quero mostrar, através deste trabalho transitivo, que é uma capital com vida própria”, diz, acrescentando que denota, ao trabalhar sobre a sua cidade, que ainda há uma ferida pós-colonial muito aberta e que, “as pessoas, às vezes, esquecem-se que a cidade é delas”.

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Para Filipe, a fotografia está a mudar. Se antes era necessária alguma precisão técnica, hoje é preciso alguma autenticidade. “Hoje em dia, na fotografia, é preciso reinventarmo-nos. Está tudo tão acessível para todos que se torna difícil fazer algo diferente”.

“Como defino o meu trabalho? Documental com uma mistura pessoal. O meu trabalho é uma descoberta de mim mesmo”, conclui o artista que se prepara para voltar sua à cidade natal. O Norte de Moçambique é a próxima paragem de Filipe onde, adianta ao P3, pretende sair da zona de conforto e trabalhar mais num projecto paisagístico.

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