Vaticano investiga apartamento de luxo do cardeal Bertone

A revista italiana L´Espresso denuncia a "apropriação e uso ilegal de fundos" destinados ao hospital pediátrico da Santa Sé para financiar obras de restauro na penthouse do antigo Secretário de Estado do Vaticano.

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O cardeal Tarcisio Bertone teve papel importante durante o papado de sete anos de Bento XVI Max Rossi /REUTERS

O Vaticano confirmou que está a investigar o financiamento das obras de restauro de um apartamento de luxo de 700 m2 do antigo secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, que alegadamente terá sido financiado por fundos do hospital pediátrico Bambino Gesú, que pertence à Santa Sé.

No entanto, o vice-director da assessoria de imprensa do Vaticano, Greg Burke, afirmou que Giuseppe Profiti, ex-presidente do hospital, e Massimo Spina, ex-tesoureiro, estão a ser investigados, mas que o cardeal italiano Bertone, que foi como que o primeiro-ministro do Papa Bento XVI, está fora do âmbito da investigação.

Este anúncio surge depois de a revista italiana L´Espresso ter avançado que cerca de metade dos 422 mil euros utilizados na restauro do apartamento foram pagos por fundos provenientes do hospital pediátrico - . A revista afirma que os juízes do Vaticano “previram crimes muito graves”, tais como “fraude, apropriação e uso ilegal de fundos”, e que tem provas de que o apartamento de Bertone foi pago com dinheiro proveniente do hospital Bambino Gesú.

As suspeitas já vêm do ano passado e em Dezembro, o cardeal Bertone doou 150 mil euros ao Hospital Bambino Gesù – o que também chama a atenção sobre os seus meios financeiros.

As acusações contra o cardeal foram, entretanto, desmentidas pelo seu advogado. “[Bertone] sublinhou que nunca deu instruções, nem autorização, para que a fundação Bambino Gesú fizesse qualquer pagamento em seu nome”, afirmou o advogado do cardeal, Michele Gentiloni Silveri, citado pela publicação Vatican Insider. Mas a L´Espresso divulgou várias cartas entre Bertone e o ex-presidente do hospital pediátrico, Giuseppe Profiti, que remontam a Novembro de 2013, onde o cardeal agradece especificamente a doação feita pela fundação do Bambino Gesú.

A reportagem foi escrita pelo jornalista Emiliano Fittipaldi, que em Novembro do ano passado publicou um livro intitulado Avarizia, onde denuncia a gestão financeira do Vaticano.

Fittipaldi e um segundo jornalista, Gianluigi Nuzzi, estão a ser processados pelo Vaticano na sequência da publicação de documentos confidenciais. O julgamento tem sido criticado por diversas organizações, como os Repórteres Sem Fronteiras e o Comité de Protecção de Jornalistas, que o denunciam como um caso de inibição da liberdade de imprensa. Os dois jornalistas, que reivindicam princípios de liberdade de imprensa e confidencialidade das fontes, enfrentam uma condenação que pode ir até aos oito anos de prisão.

O cardeal italiano, que se retirou do cargo de secretário de Estado do Vaticano em 2013, assegurou em Dezembro do ano passado que as obras do apartamento custaram 300 mil euros e que estes foram pagos com as suas próprias poupanças. 

A polémica do apartamento de luxo de Bertone remonta a 2014, altura em que o antigo secretário de Estado do Vaticano gastou dois milhões euros na compra de um apartamento de 700 m2. Já na altura, Bertone reiterou que a compra foi feita com o seu próprio dinheiro e que o próprio Papa Francisco o apoiou. O cardeal afirmou também que quando prescindisse do apartamento este seria aproveitado por outras pessoas.

Bertone assumiu um papel importante durante o papado de sete anos de Bento XVI, que durou entre 2006 e 2013. Foi ainda secretário de Estado do Vaticano durante os primeiros meses do pontificado do Papa Francisco, tendo sido substituído pelo cardeal italiano Pietro Parolin.

O Vaticano tem estado envolvido em vários casos de corrupção e de extravagâncias financeiras. Apesar das tentativas do Papa Francisco para reformar a Igreja Católica e combater estes casos, as denuncias de jornalistas como Fittipaldi ou os vários escândalos de divulgação de documentos confidenciais do Vaticano têm dificultado a sua tarefa. 

 

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