Não esqueçam a centralidade da informação no terrorismo, nem no resto

Não admira que os horríveis atentados terroristas de França e na Bélgica estejam a dominar por completo a agenda mediática nacional e internacional. Os efeitos catastróficos desses atentados, quer pelas mortes que causam, quer pelos efeitos psicológicos e dissuasores de medo e pânico que originam junto das populações agredidas e não só são “matéria-prima” de notícia privilegiada para «satisfazer» as audiências e «alimentar» o consumismo mórbido propenso a informação nesta área.

Entretanto, os media, particularmente os televisivos, aproveitaram ao máximo o “pasto” favorecido por estas tristes ocorrências e trouxeram aos seus painéis comentadores de variada ordem que, francamente, nalguns casos, só servem para aumentar a confusão e fazer desfocar este terrível problema social dos vectores fundamentais que entrelaçam uma “situação de guerra», porventura, a mais complicada e trágica que o mundo ocidental enfrentou até hoje. Fazem-me enriçar os cabelos ouvir alguns comentários que, também eles, só podem servir para fornecer às mentalidades populares um igual sentimento de ódio e medo. Valham-nos alguns competentes peritos na matéria, como por exemplo Nuno Rogeiro ou Pezarat Correia, que falam do que sabem. Mas, obviamente, não me compete continuar neste teor de apreensivas considerações.

Há dois problemas graves que estes sucessivos atentados terroristas, aliás, cada vez menos espaçados no tempo, nos têm colocado: a falta que temos numa Europa desprevenida de líderes preparados e cientes (a confusão que manifestam nestas alturas é perturbante) e a ineficácia organizativa do instrumento, há muito tempo considerado decisivo, se não para combater, ao menos prevenir e contrariar estes acontecimentos: a informação. Como escrevia o PÚBLICO, no seu editorial de 25/03/2016, é absolutamente desolador o sentimento transmitido pelos principais líderes europeus, entre os quais o seráfico Jean-Claude Juncker: “Os Estados-membros têm de confiar uns nos outros.” É quase como dizer: rezem, rezem, para os terroristas não nos atacarem. E como salientava o PÚBLICO, num outro editorial do dia 24/03/2016, transmitindo frases de Juncker que soam a falso e incompetência: «É deprimente reler as intervenções públicas dos últimos anos de Jean-Claude Juncker sobre a necessidade de as polícias e os serviços secretos cooperarem mais.» Isto o que quer dizer é que a Europa e a Comissão Europeia, que devem ter a consciência exacta de que uma das ameaças mais fortes e destrutivas para a sua coesão e sobrevivência que enfrentam é o terrorismo, ainda não decidiram concentrar na organização da informação e no favorecimento aos agentes peritos nesta área os indispensáveis meios para pronunciarem com outro rigor a palavra que tantas vezes sai da boca dos seus responsáveis: prevenir. É provável que a Turquia tenha agora aproveitado este flagrante lapso de a polícia belga não ter ligado à informação de um  terrorista identificado para tirar dividendos. Mas a verdade é que os atentados da Bélgica vieram pôr a nu a ineficiente organização de informação organizada entre as polícias francesa e belga. Não quer dizer que não estejamos todos envolvidos num problema do qual ainda não vislumbramos como poderemos vir a sair. Mas parece evidente que este combate terá de passar muito por uma «guerra de informação». Aliás, situações conflituosas deste tipo e anteriormente vividas já se colocaram no mesmo plano de actuação: privilegiar a organização e o provimento dos meios humanos e técnicos da informação no funcionamento dos Estados modernos não só para a autodefesa ante o terrorismo sem rosto, nem hora certa, mas também em tantos outros campos. A lentidão e desapoio com que os Estados lidam com os mecanismos e estruturas de informação para combate a este patamar falso do mundo que pisamos é decepcionante.

Os Estados modernos estão hoje a rolar sobre um mundo de perigos que, submersivelmente, os atraiçoam e ameaçam: o fenómeno alastrante da corrupção no patamar das entidades públicas e governativas, o crime organizado em relação ao tráfego de armas e de pessoas e da «indústria da droga», a comercialização em sofisticados truques do sistema financeiro atentatória da sustentabilidade de Estados, o modo artificioso e quase impenetrável como o doping vai minando os principais desportos, grandes baluartes da industria desportiva, e tantos outros fenómenos de índole criminosa que fazem deste mundo um lugar de dois lados, o horroroso e desprezível e aquele que pode ser visto com alguma esperança, como aquele que os Rollling Stones, em Cuba, fazem anunciar: “Parece que os tempos estão a mudar.”

É por isso que venho, hoje, com este apelo: concentrem os focos de tratamento de informação no terrorismo, mas não esqueçam os outros. Os media terão de fugir a uma trama sempre mais fácil e mais apetitosa: seguir com toda a gama de meios a informação imediatamente consumível. Não creio, sinceramente, que o comportamento do PÚBLICO, e, aliás, da imprensa escrita em geral, tenha merecido da parte de alguns governos o pedido de contenção na informação especulativa sobre os últimos acontecimentos terroristas. A informação é uma matéria solúvel e, como tal, vai exigir dos Estados capacidade e inteligência como instrumento de serviço catalisador para os fins em vista. Historicamente, têm sido terríveis e desgraçados alguns exemplos. Até aqui a imprensa, os media terão de estar atentos, para que a estes primeiros sinais de medidas que se enunciam, a manifestar até agora ignorância e desadequação sobre o que fazer, não haja a tentação de armar a defesa com Estados policiais.

 

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

3.º Encontro Leitores/escritores de cartas
Na referência que fiz, na segunda-feira passada, a este encontro, errei ao considerar Maria Clotilde Moreira como promotora destes encontros. Peço desculpa e rendo a minha homenagem à sua pioneira nesta organização, Maria do Céu Mota.

Lar de idosos na Maia
Pede-me o leitor José Peixoto alguns esclarecimentos sobre a reportagem feita ao lar de idosos, em Pedrouços, Maia, Porto. «Chegou-me ao conhecimento que houve há poucos dias no PÚBLICO (?) uma reportagem(?) sobre uma Sara Paço, e/ou Lar de Idosos em Pedrouços, Maia, Porto. (É o Lar Home Sweet Home, Lar Doce Lar)? Gostava de a ler, terei novidades sobre a gente que gere esse lar; para que saibam; eu sou o dono do prédio.»

Comentário: solicitei à direcção que esclarecesse o leitor sobre este assunto, o que já deve ter acontecido.

E agora, o The Independent
Conforme noticiou a Lusa, o The Independent, jornal inglês publicado em papel desde 1986, deixou de editar, no último sábado, este jornal no suporte papel. Doravante, The Independent terá edição apenas em suporte digital. Um jornal que chegou a ter 420 mil exemplares de tiragem diária, fecha com a tiragem média de 60 mil exemplares. O digital continua a fazer o seu caminho. Congratulo-me, por isso, que na Nota da Direcção, publicada a 22 de Março de 2016, o PÚBLICO registe uma média de 12,5 mil assinantes digitais, mas mantenha na sua edição papel, uma média diária de 20 mil exemplares.

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