Terror e escuridão

O pior terror é o da ignorância. Temos de tentar ver claro, por entre o fumo das explosões.

Os países árabes estão a ferro e fogo. As cidades europeias estão sitiadas por um terrorismo que é segregado do seu interior. Não admira: nos territórios do médio oriente localizam-se as mais consideráveis reservas de petróleo que existem no mundo. Os transportes, as construções, os aeroportos, a energia – a componente material da globalização – colapsariam sem o petróleo e os seus derivados. A posse destes recursos não é regulada por nenhuma lei: a sua apropriação é violenta e geradora de conflitos à escala global.

Na falta de um império mundial que garanta o acesso universal e a possibilidade de se utilizarem esses recursos, tal direito conquista-se pela força. Não há como fugir, estamos no meio da tormenta. Enquanto não existir uma alternativa política realista, o petróleo irá dividir as sociedades humanas, criadas sobre os valores ancestrais e nunca proscritos do medo, do ódio e da violência. A escuridão da selva oprime a humanidade.

O erro dos que professam uma perspectiva linear da história é o de julgarem as actuais tensões existentes no mundo como um confronto entre o passado e o presente – o reacender das guerras religiosas! Trágica armadilha esta, que nos levará somente a mais carnificinas (e a colossais negócios de venda de armamento)! Pois não se vê claramente que convivemos todos no mesmo presente, forçados a viver em conjunto, a respirar o mesmo ar? Temos de entender-nos, de respeitar-nos uns aos outros, bem como as regras das sociedades em que vivemos e cumprir as normas das nações que habitamos. Sempre foi assim. Há quem tenha descurado estes preceitos? É bem tempo de se corrigir. O que não vale é ocultar com um peneira a guerra mortífera e selvagem que dilacera o médio oriente.

Assistimos pois a uma radicalização fundamentalista, ao acréscimo generalizado da violência, a um êxodo de populações e a uma histeria nos media. A guerra santa é a forma de guerra tradicional em todas as regiões em que não houve o ‘corte’ da modernidade nem um tratado como o de Vestefália. Numa guerra santa o inimigo é o diabo, e o diabo não merece quartel. Não pode estar a salvo. A globalização é um pau de dois bicos.

A guerra é sempre cruel e desumana, mas a humanidade não conseguiu ainda aboli-la. A Europa (que era rica em carvão e em aço) saiu derrotada, estropiada, cabisbaixa das guerras do século XX. Ao Médio Oriente sucederá o mesmo no século XXI. Enquanto os povos soberanos não se revoltarem contra os senhores da guerra, a guerra vai continuar a atormentá-los: quer estejam no seu cerne, nas suas margens ou nos seus esconderijos. Por mais que se instalem câmaras de vigilância, por mais que se restrinjam as liberdades públicas, não haverá maior segurança para os cidadãos: apenas mais terror e escuridão, acompanhados do seu cortejo de medos, ódios, instabilidades e ainda mais violência.

São bem claras as intenções do sistema que nos controla e subjuga. O terror lança na escuridão a participação de tropas na guerra e os negócios de armamento que lhe estão associados. E cria um inimigo em todo e qualquer um (ou uma) que nos pareça estranho. Mina a coesão social. Justifica a necessidade de mais e mais vigilância. Porém, o pior terror é o da ignorância. Temos de tentar ver claro, por entre o fumo das explosões que abalam as cidades dum e doutro lado do Mediterrâneo. Por detrás dos ecrãs. Se for tempo de lutarmos, não será a primeira vez. Façamos então por que seja, de facto, a última.

Professor universitário, físico

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