Neste cinema há relâmpagos, chuva e cadeiras que se mexem

Primeira sala 4DX é inaugurada esta quinta-feira no Gaia Shopping. Batman v Super-Homem: o Despertar da Justiça é o filme de estreia, outros blockbusters se seguem. Em breve haverá uma sala idêntica em Lisboa.

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Ainda o ecrã está negro, à espera da primeira cena do trailer do duelo entre o Batman e o Super-Homem, e na sala vê-se um relâmpago. A cadeira treme, parece que trava e inclina-se para trás. Uma espécie de nevoeiro espalha-se por entre os assentos e sente-se uma brisa. A acção continua no filme Batman v Superman: o Despertar da Justiça  mas não só. O GaiaShopping, em Vila Nova de Gaia, é o primeiro cinema em Portugal com a tecnologia 4DX, que será inaugurada esta quinta-feira. Este sistema, desenvolvido por uma empresa sul-coreana, introduz efeitos olfactivos ou ambientais e movimentos das cadeiras durante a projecção dos filmes.

O vento, os relâmpagos e a vibração dos assentos são apenas alguns dos 20 efeitos com que a sala está equipada. Durante um filme é possível sentir-se chuva — graças a um aspersor oculto que se encontra nas costas de todas as cadeiras —, neve, vapor e aromas. Um pequeno elemento que se situa entre os pés dos espectadores simula ainda o toque de animais rastejantes, assim o filme os inclua. Mas são as cadeiras que mais efeitos integram. Movem-se em sintonia, quase como se fosse uma dança, simulando perseguições de automóveis a alta velocidade, quedas de aviões ou travagens bruscas. Oscilam em todas as direcções, em movimentos que ora fazem lembrar uma viagem de montanha-russa ora voos turbulentos.

Reconstruída e adaptada às exigências tecnológicas do 4DX, a sala 1 do GaiaShopping tem um ecrã reduzido e uma capacidade pouco comum para um multiplex: apenas 80 lugares. As cadeiras são maiores e por isso o auditório foi reconfigurado, com filas mais curtas e mais espaço entre os lugares. “Estas salas têm de ter uma dimensão relativamente pequena devido à interacção [que se espera] entre as pessoas”, explica Luís Mota, administrador dos cinemas NOS. “Há aqui um efeito muito tribal por parte de quem assiste aos filmes. Um ecrã maior iria fazer com que as pessoas se sentissem desconfortáveis.”

Para que pequenos jactos de água saiam dos aspersores e os espectadores sintam o aroma a pneu queimado — que acompanha algumas cenas de Batman v Super-Homem: o Despertar da Justiça — foi necessário acrescentar componentes aos sistemas de projecção digital já existentes. Um software estabelece a ligação entre a imagem e o som dos filmes e os movimentos e efeitos que se pretendem imprimir. Um sistema hidráulico é o responsável pelas oscilações dos assentos e a água “é destilada para não manchar a roupa e não deixar as pessoas molhadas”, garante o administrador.

A abertura da sala 4DX coincide com a estreia nacional de Batman v Super-Homem: o Despertar da Justiça, de Zack Snyder. Ao filme em que Ben Affleck e Henry Cavill interpretam, respectivamente, Bruce Wayne e Clark Kent — num duelo entre os dois super-heróis da DC Comics nunca visto no cinema — vai seguir-se 10 Cloverfield Lane. O filme de Dan Trachtenberg, acredita o administrador dos cinemas NOS, “vai ser uma brutalidade na sala 4DX”. “Todos os blockbusters vão passar por aqui”, assegura. Star Trek: Além do Universo, com estreia marcada para Agosto, será certamente um deles. O bilhete para assistir a um filme na sala 4DX custa 12 euros, dois euros a mais do que o praticado nas duas salas Imax que os cinemas NOS têm no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, e no Mar Shopping, em Matosinhos.

Aumento de receitas?

Pode a inovação tecnológica das projecções em sala contribuir para um aumento das receitas de bilheteiras? Luís Mota acredita que sim. “Tentamos proporcionar experiências que não são replicáveis noutras janelas”, diz — e os efeitos que uma sala 4DX (ou até Imax) oferece dificilmente podem ser replicados em casa. Já na década de 1930 se faziam experiências com pequenos cachimbos, colocados dos assentos das salas de cinema, que libertavam aromas. Mais tarde, em 1960, a estreia de Scent of Mystery, de Jack Cardiff, aconteceu numa sala equipada com um sistema de tubos que libertavam 30 cheiros para a audiência, o Smell-O-Vision. Numa homenagem ao filme de Cardiff, John Waters realizou Polyester, em 1981, e introduziu o Odorama: pequenos cartões eram entregues aos espectadores para que pudessem sentir os mesmos cheiros com que a protagonista, Francine Fishpaw, se deparava. Estas tecnologias acabaram por ser abandonadas.

A escolha do GaiaShopping para a estreia do sistema 4XD em Portugal, explica ainda o administrador dos cinemas NOS, “prende-se com a aposta em atrair cada vez mais pessoas ao cinema”, numa zona do país que o administrador vê como “interessante”. Os números do ano passado parecem comprovar o interesse do público em blockbusters. De acordo com dados da empresa Rentrak, que mede resultados de bilheteiras em todo o mundo, 2015 foi o ano “com maiores ganhos nas bilheteiras globais na história do cinema”. Em Portugal houve recuperações nas receitas e no número de espectadores superiores a 20%: até ao final de Novembro, 12,8 milhões de pessoas foram ao cinema. 

A tecnologia 4DX foi desenvolvida pela CJ 4DPLEX, empresa de Seul que começou a comercializá-la em 2009. Tornou-se popular sobretudo em países da América do Sul e da Ásia. Na Europa são poucas as cidades com salas 4DX e a de Vila Nova de Gaia abre um dia antes da de Nova Iorque. Para breve, diz Luís Mota, está a inauguração de uma sala idêntica em Lisboa.

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