Obey your master: os Metallica são a primeira banda de metal na Biblioteca do Congresso

A Love Supreme de John Coltrane e I Will Survive estão também entre as 25 novas gravações preservadas pela instituição.

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James Hetfield com os Metallica no festival Alive, em 2009 PAULO PIMENTA

Master of Puppets, o terceiro álbum dos Metallica, é o primeiro registo de metal ser admitido na Biblioteca do Congresso dos EUA para preservação. Ao título seminal de 1986, um dos mais importantes trabalhos da banda norte-americana, juntam-se, entre as 25 gravações consideradas em 2016, Where Did Our Love Go das Supremes, A Love Supreme de John Coltrane e I Will Survive de Gloria Gaynor.

Todos os anos, a Biblioteca do Congresso selecciona,  a partir de pareceres do National Recording Preservation Board, 25 obras musicais – e também outras tantas obras cinematográficas, por exemplo – que sejam “cultural, histórica ou esteticamente significativas” e com pelo menos dez anos de antiguidade.

Na lista mais recente estão alguns nomes incontornáveis da história da música como Coltrane ou as Supremes, Abraxas de Santana, e, então e pela primeira vez, os Metallica, uma das bandas maiores do metal. É um álbum “que mostra a banda a afastar-se da sua história e reputação thrash metal e a explorar novas ideias”, escreve a Biblioteca do Congresso sobre o título que agora consagrou digno de preservação. Analisando temas como Battery ou Orion, a instituição situa ainda os Metallica na história do metal, com o baixista e letrista dos Black Sabbath, Geezer Butler, a atribuir-lhes a capacidade de colocar o som “novamente no espírito dos Sabbath”, tido como fundador do metal. “Se nós o começámos, eles reinventaram-no."

Sobre a faixa que dá nome ao álbum, Master of puppets, cujo refrão ordena “Come crawling fasterObey your master/ Your life burns faster/ Obey your master/ Master”, a instituição sublinha como “começa sem surpresas com um acorde poderoso e crepitante e um riff que fica no ouvido, mas a meio o ritmo abranda e começa uma progressão límpida e como um arpejo, acompanhada por tons como os de um violoncelo, que introduz a guitarra principal de [James] Hetfield”.

Num comunicado o baterista dos Metallica, Lars Ulrich, congratulou-se pela companhia que tem a banda nesta recente fornada. E não esconde a sua surpresa: “Quem diria que alguma vez Master of Puppets, um disco feito por uma banda que estava bem longe do mainstream em 1986, teria a honra de ser incluído no Registo da Biblioteca do Congresso?”, questionou-se, satisfeito pela recepção “neste panteão”. "[Master of Puppets] é uma colecção de canções que consideramos um momento-chave nos nossos anos de formação e a honra atribuída a este álbum é mais do que entusiasmante."

Dos arquivos da Biblioteca do Congresso constam já 450 gravações, cujas versões em melhores condições se encontram no Packard Campus for Audio Visual Conservation, em Culpeper.

Além do disco dos Metallica, entram também agora para esse "panteão" o histórico álbum jazz A Love Supreme, de Coltrane – que o autor, diz a instituição, via como “um trabalho profundamente espiritual e devoto”, com uma composição cuidadosamente estruturada que lhe garantiu, segundo o perito Lewis Porter, "uma audiência muito mais alargada do que a maioria dos álbuns de jazz da época”  ou o lado B inspirado pelo fim de uma relação de Gloria Gaynor, I Will Survive. A música tornar-se-ia uma música emblemática do movimento gay mas também dos direitos das mulheres, com Gaynor a considerar-se privilegiada e honrada por a sua música “inspirar pessoas em todo o mundo, de todas as nacionalidades, raças, credos, cor ou grupo etário”, como disse agora, citada pela AFP.

Incluídas na listagem estão ainda Piano Man, de Billy Joel, uma gravação da Nona Sinfonia de Mahler (1938) feita pela Orquestra Filarmónica de Viena dois meses antes do anexamento da Áustria pela Alemanha nazi, e o histórico álbum de comédia de George Carlin Class Clown. Deu ainda entrada na Biblioteca do Congresso um discurso de 1947 do Secretário de Estado George Marshall em que este enuncia o que seria o esforço de reconstrução na Europa do pós-guerra  e que ficaria delineado e conhecido como o Plano Marshall.

Fazem parte dos arquivos da Biblioteca do Congresso gravações de Stephen Sondheim, Radiohead, Tupac Shakur, U2, Pink Floyd, Billie Holiday, Beatles, Elvis Presley, Frank Sinatra, Johnny Cash, Chuck Berry ou Nirvana, mas também registos históricos como a mensagem de Neil Armstrong a partir da Lua.

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