Câmara de Sines lança numa praia do concelho esgotos urbanos não tratados

Presidente da autarquia diz que é um problema pontual. Quem vive perto do local diz que há vários anos corre um “ líquido fétido” que se concentra na praia da Cova do Lago.

Foto
FTSS

Mário Domingos é proprietário de um restaurante situado junto ao areal da praia da Cova do Lago e está confrontado com a má vizinhança dos esgotos que vêm da estação elevatória da Baixa de S. Pedro que os devia debitar para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) instalada na Ribeira dos Moinhos nos arredores de Sines. “Há anos que suporto esta situação”, relata o empresário de restauração, criticando a inépcia do município que nem respondeu à queixa que apresentou, por causa do mal-estar que os maus cheiros provocam nos seus clientes, sobretudo no Verão.

Passou a questionar os funcionários da autarquia que se deslocavam à estação elevatória, mas a resposta era sempre a mesma: “Estamos a reparar as electrobombas”. Cansado de tanta falta de atenção dos responsáveis municipais, Mário Domingos filmou a área afectada pelos esgotos e publicou na sua página do Facebook, onde descreve como “o líquido fétido” segue pelo barranco da Cova do Lago para se concentrar numa depressão da praia.

Este cenário foi observado por cerca de 40 pessoas que no dia 13 de Março se deslocou à praia da Cova do Lago para participar numa acção de coastwatching, que a organização do Festival Terras Sem Sombra (FTSS) realizou em defesa da biodiversidade em paralelo com um espectáculo de música sacra que decorreu na véspera na igreja matriz de Sines.

O director do FTSS, José António Falcão, descreve “um problema preocupante”: Numa vasta zona era visível a escorrência de esgotos, que convergiam para uma depressão, onde se acumulavam.  

Tudo indicava que seriam águas sujas provenientes de despejos ilegais” presumiu António Falcão. Pelas informações que recolheram de moradores nas imediações e pescadores, não é a primeira vez que ocorre.

Um pescador adiantou ao PÚBLICO que as descargas vindas pelo barranco da Cova do Lago a partir da estação elevatória da Baixa de S. Pedro “ já ocorrem há mais de 15 anos”, sobretudo entre as 9h e as 10h e as 20h e 21h.

O presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas confirmou as descargas de esgotos sem tratamento, alegando que a situação anómala é resultado de “avarias simultâneas e imprevisíveis em duas electrobombas da Estação Elevatória sita na Baixa de S. Pedro”. O autarca afirma que a reparação dos equipamentos “está em fase de conclusão”, frisando que se trata de uma “ocorrência pontual que, esperamos, não volte a repetir-se”.

Mário Domingos fica a aguardar pela próxima época balnear para confirmar se os maus cheiros “passaram à história”.

Entretanto, já entrou em funcionamento o novo troço do emissário submarino que lança no oceano os efluentes tratados que a ETAR de Ribeira dos Moinhos recebe do complexo industrial de Sines e das câmaras de Sines e Santiago do Cacém.  

Os trabalhos de reparação terminaram no dia 25 de Fevereiro. A empresa Águas de Santo André, entidade que detém a concessão da ETAR de Ribeira de Moinhos e do emissário submarino, garante que os resultados da monitorização da água do mar e sedimentos “revelaram valores semelhantes aos existentes antes do início da obra e dentro dos parâmetros de qualidade aplicáveis”.

No âmbito da empreitada de reparação do emissário, iniciada em Setembro passado, foi feita a substituição integral do troço inicial que descarrega no mar as águas residuais tratadas, numa extensão de 120 metros, dando solução à degradação da infra-estrutura que foi construída em 1976.

Desta forma, a Capitania do Porto de Sines anulou a interdição do uso da praia e da actividade da pesca na zona da Costa Norte de Sines, desde o Canto do Mosqueiro até ao limite sul da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários