Biografia de Carlos Cruz denuncia compra de votos no Euro 2004

Antigo apresentador fala em envelopes com dinheiro e em promessas de vivendas. Gilberto Madaíl desmente.

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Gilberto Madaíl abraça Carlos Cruz, na Alemanha, no momento em que foi anunciada a decisão de entregar a Portugal o Euro 2004

A autobiografia apresentada na terça-feira pelo antigo apresentador de televisão Carlos Cruz denuncia um processo de troca de favores para assegurar a Portugal a organização do Europeu de futebol de 2004. No livro Uma Vida, o antigo membro da comissão executiva da candidatura nacional põe em xeque José Sócrates e Gilberto Madaíl, que já refutaram por completo as acusações.

Em concreto, Carlos Cruz, que cumpre pena de prisão pelo crime de abuso sexual de menores, menciona um episódio que envolve a entrega de envelopes com dinheiro a troco de votos na candidatura portuguesa. “O presidente da Federação desse país [não é revelado qual] tinha manifestado o desejo de passar férias em Portugal. Alguém teve a ideia de oferecer as férias ao senhor e família. Fizemos as contas e como ele não tinha datas escolhidas levou-se um envelope com os dólares equivalentes ao cálculo das viagens e de uma semana de férias no Algarve. […] À saída da reunião, Madaíl, discretamente, entregou-lhe o envelope. Como o dólar valia mais do que o sol do Algarve, o nosso amigo guardou o dinheiro e não pôs os pés em Portugal”, pode ler-se numa das passagens da autobiografia, promovida pelo autor numa saída precária do estabelecimento prisional da Carregueira.

A este episódio, Carlos Cruz acrescenta um outro, que envolve uma exigência invulgar do “presidente da federação de um país que tinha grande influência na decisão da Comissão do Euro”: “Teríamos o voto garantido daquele país e a promessa de que faria lóbi a nosso favor junto de várias federações do Leste. Em contrapartida queria uma vivenda no Algarve no valor de 100 mil dólares”, escreve, acrescentando que sondou Madaíl e José Sócrates sobre o tema e que lhe foi dito pelo então ministro-adjunto de António Guterres que Portugal “não podia perder” a organização do evento “por uma questão de dinheiro”.

Gilberto Madaíl reagiu entretanto a esta versão dos acontecimentos, rejeitando liminarmente o envolvimento nesta alegada troca de favores. “Não sei se Carlos Cruz estará bem para escrever coisas dessas. É tudo mentira. Não houve entregas de dinheiro, nem envelopes, nem vivendas, nem essas conversas com Sócrates. Desminto tudo categoricamente. É uma história mirabolante, pura e simplesmente não é verdade”, garantiu ao jornal A Bola o antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

Em declarações à SIC, José Sócrates também refutou por completo as acusações: “É completamente falso e só posso entendê-lo à luz de um delírio”, declarou.

Para já, a UEFA — organismo que tutela o futebol europeu — não irá abrir uma investigação ao caso mas promete estar atenta a futuros desenvolvimentos, admitindo tomar medidas se a versão dos factos relatada por Carlos Cruz vier a ser sustentada por provas.

 

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