Cristas sem “urgência” na revisão constitucional – mas só fala dela

Numa atitude inédita, a nova líder do CDS faz questão de se encontrar com todos os partidos com assento parlamentar e prometeu diálogo cordato. Sobre a Constituição, diz querer uma revisão abrangente.

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Pedro Afonso de Paulo demitiu-se por não concordar com o peso que a agricultura tinha no ministério de Assunção Cristas daniel rocha

As críticas azedas, os epítetos menos ortodoxos e os dedos em riste são para continuar a usar no debate político, onde o CDS continuará a fazer uma “oposição muito firme, viva e acutilante”, mas Assunção Cristas quer que, à margem dessa disputa, o relacionamento institucional entre os centristas e os partidos da “esquerda radical” seja “educado e cordato” e que até possam trabalhar “um ou outro tópico”. Apesar das “diferenças profundas de pensamento” e do espaço político em que se “movimentam”, admitiu.

Foi isso mesmo que, num gesto inédito da direcção do CDS-PP, e apenas quatro dias depois de ser eleita presidente do partido, Assunção Cristas foi dizer esta quinta-feira ao PEV, PCP e BE, precisamente por esta ordem, em reuniões de cerca de 40 minutos. A líder centrista admitiu que foram abordados alguns “temas relevantes que trarão espaço para [o CDS e esses partidos] conversar nos próximos tempos”, mas recusou revelar quais exactamente.

Permitiu-se, no entanto, falar sobejamente de um: a revisão constitucional que permita mudar a nomeação da supervisão bancária. Ainda que também tenha afirmado, depois da reunião com o PCP, não ter “nenhuma urgência nem nenhuma emergência para estar a iniciar agora um processo de revisão da Constituição”. Mas, se da análise das quatro prioridades que definiu no congresso do passado fim-de-semana, tiverem se concluir que essa revisão é “instrumental para um conjunto de matérias”, então isso será “colocado num papel à parte para depois se conversar de novo com os vários partidos – sendo certo que o PS terá sempre que estar disposto a isso.

À saída das reuniões, onde esteve acompanhada por Ana Rita Bessa e Teresa Anjinho, ambas vogais da comissão executiva, a presidente do CDS-PP teve sempre o mesmo discurso e à porta da sede do PEV, onde se encontrou com Manuela Cunha, Dulce Arrojado e Vítor Cavaco, admitiu que as propostas de revisão constitucional que o partido possa colocar em cima da mesa irão além do processo de nomeação do governador do Banco de Portugal - Carlos Costa está na mira dos partidos há mais de um ano. “A minha preocupação não é com o timing; é com as políticas e com a forma como encontramos respostas.”

“A revisão constitucional não é a nossa primeira preocupação”, tentou depois desvalorizar Assunção Cristas à porta do grupo parlamentar do BE, onde conversou com Catarina Martins, Jorge Costa, Joana Mortágua e Nelson Peralta. “As quatro primeiras prioridades são pôr a economia a funcionar e quebrar os ciclos de pobreza; tornar a supervisão eficaz para não termos bancos a cair um após outro com dano para a nossa economia e contribuintes; a organização do trabalho ao longo da vida e o sistema de pensões, com a conciliação entre trabalho e família, o envelhecimento activo; e a forma como organizamos o trabalho nos sectores público e privado – dei o exemplo da ADSE e como podemos estudar a maneira de poder alargar aos demais portugueses este mecanismo público de apoio à saúde”, descreveu a líder do CDS. “Se daqui decorre matéria para a revisão da Constituição…”

Pouco antes, Assunção Cristas admitiu que, na reunião com o PCP, onde esteve com Jerónimo de Sousa, João Oliveira e Paula Santos, foi abordada em concreto a questão da supervisão “do ponto de vista das ferramentas e da configuração institucional, para além da nomeação do governador do Banco de Portugal”. Questionada sobre se o diálogo com o PCP poderá ser produtivo nesta matéria, a presidente do CDS foi evasiva: “Poderá ser produtivo sobre um conjunto de matérias que toquem ou não a Constituição, mas quando falamos de matérias que interessam ao país, haverá espaço para conversar com todos.”

Em 2010, no processo de revisão constitucional que sucumbiu à convocação de eleições antecipadas em 2011, o CDS propunha, por exemplo, a nomeação do governador pelo Presidente da República por indicação do Governo, a inscrição do tecto de 35% para a carga fiscal e a redução dos prazos eleitorais.

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