Vamos colocar este Sequeira no lugar certo

João Soares promete taskforce para convencer empresários a entrarem na campanha de Sequeira

“Muito obrigado pelo exemplo que está a dar aos empresários e industriais”, disse o ministro da Cultura, João Soares, nos minutos finais do seu discurso na cerimónia de entrega de um cheque de 200 mil euros ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) pela Fundação Aga Khan. Pouco depois, ao final da tarde desta quarta-feira, o director do MNAA, António Filipe Pimentel, receberia um envelope branco das mãos do príncipe Amyn Aga Khan, representante e irmão do líder da comunidade ismaelita, com aquela que se tornou, de longe, a maior doação até agora para a campanha que tem como objectivo comprar um quadro do pintor português Domingos Sequeira.

A campanha nacional de angariação de fundos ultrapassou assim os 400 mil euros, faltando ainda um terço da verba para se conseguir comprar por 600 mil euros a pintura Adoração dos Magos (1828), actualmente nas mãos de privados, para o MNAA.

João Soares fez mesmo um repto directo ao presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, sentado entre os elementos da assistência que ocupava o Salão Nobre do museu, onde se podia contemplar o quadro de Sequeira, em exibição durante a campanha, mas também os famosos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves. O ministro pediu-lhe que promovesse esta campanha junto dos empresários, como ele próprio prometeu fazer. “Vou-me empenhar com o meu gabinete no incitamento que tem que ser feito aos empresários portugueses”, afirmou.

Mais tarde explicaria aos jornalistas que a contribuição da Fundação Aga Khan “não caiu do céu”, sugerindo o trabalho de gabinete que é necessário para estas iniciativas terem sucesso. “Vamos ter uma taskforce só para bater os empresários. Há coisas que se fazem, mas de que não se falam.”

A campanha, intitulada Vamos Pôr o Sequeira no Lugar Certo, apela à participação da sociedade civil e de grandes mecenas, permitindo contribuições mínimas de seis cêntimos. É a primeira do género em Portugal com esta dimensão nacional — além do PÚBLICO, tem ainda como parceiros principais a agência de publicidade Fuel, a RTP e a Fundação Millennium BCP —, embora seja prática comum em vários países. Até agora, conseguiu juntar inúmeras pequenas contribuições, mas a um mês e meio de terminar ainda não conheceu a participação das maiores empresas portuguesas, à excepção da EDP e da ANA.

O ministro da Cultura, tal como o director do MNAA, defendeu que, com a contribuição da Fundação Aga Khan, “a campanha sofreu uma mudança qualitativa espantosa”. Interrogado sobre se o Estado poderia ainda contribuir se faltasse alguma verba no final do prazo, Soares afirmou que só nessa altura valeria a pena falar do assunto. “Esta campanha corresponde àquilo que tenho dito, que com a escassez de recursos financeiros de que dispomos  e tendo tido o país de se comprometer com as poucas-vergonhas, os BPN e os Banif  é preciso ir buscar recursos de outra maneira, com inteligência e imaginação.”

O príncipe Amyn Aga Khan explicou que a sua fundação fez a doação “com a sincera esperança” de poder "encorajar outros a seguir o exemplo”, acrescentando que na Europa, ao contrário dos EUA, há menos estímulo “à doação privada e empresarial para a aquisição ou retenção de obras importantes da herança cultural”. O irmão do Aga Khan referiu ainda a decisão, anunciada no ano passado, de construir em Portugal o Imamat Ismaili, a sede global da sua comunidade, que conduzirá a relação com o país a um novo patamar, à luz do qual esta doação já tem de ser entendida.

Interrogado pelo PÚBLICO sobre os recados recebidos, o presidente da CIP disse que ainda não tinha contribuído para a campanha, mas que “seguramente” iria contribuir. “Temos que dar os exemplos. Não podemos pedir aos outros aquilo que não estamos dispostos a fazer.”

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