Vacina experimental contra a dengue foi 100% eficaz em voluntários

Voluntários não desenvolveram doença depois de terem sido infectados com o vírus da febre de dengue. Técnica aplicada nesta vacina também está a ser usada para desenvolver uma vacina contra o vírus Zika.

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O mosquito Aedes transmite o vírus da dengue e do Zika Jaime Saldarriaga/REUTERS

Uma vacina experimental contra a febre de dengue testada nos Estados Unidos foi totalmente eficaz num pequeno grupo de voluntários, refere um artigo publicado nesta quarta-feira na revista científica Science Translational Medicine. Um ensaio clínico de fase III desta vacina está agora a começar agora no Brasil, para testar a vacina no terreno e em muitas pessoas.

A febre de dengue é provocada por um vírus transmitido aos seres humanos pelos mosquitos do género Aedes. Estima-se que existam 390 milhões de infecções anuais distribuídas por 120 países situados nos trópicos. Destas infecções, duas milhões provocam uma febre hemorrágica. Os sintomas da dengue são, em geral, febre, erupções cutâneas e dores nas articulações. Mas nalguns casos a doença pode tornar-se mais séria com hemorragias e até a morte. Todos os anos, o vírus mata cerca de 25.000 pessoas.

Esta variação nos sintomas está associada ao vírus com que se é infectado, já que há quatro tipos diferentes de vírus. Geralmente, a primeira vez que alguém é infectado com a dengue apresenta sintomas mais fracos. Depois, quando a mesma pessoa é picada por um mosquito que transmite outro tipo do vírus da dengue, os sintomas tomam proporções mais graves.

Os especialistas defendem que este fenómeno está ligado ao sistema imunitário. Na prática, a complexidade da febre de dengue torna o desenvolvimento de vacinas mais difícil. Uma vacina contra esta doença tem de produzir imunidade duradoura contra os quatro tipos de vírus para ser realmente eficaz. Recentemente, um ensaio clínico de fase III no Brasil de uma vacina designada por Dengvaxia, da Sanofi Pasteur, mostrou que, passados três anos da sua administração, as crianças deixavam de ter imunidade. E quando eram infectadas pelo vírus da febre de dengue tinham mais frequentemente sintomas graves do que as crianças que não tinham sido vacinadas.

Zika na mira dos cientistas

A nova vacina, chamada TV003, foi desenvolvida pelo Instituto Nacional das Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês) e o ensaio clínico contou ainda com investigadores da Universidade de Vermont e da Universidade Johns Hopkins, também dos EUA. A vacina resulta da mistura dos quatro tipos de vírus da dengue atenuados. O ensaio realizado agora serviu apenas para testar a resposta da vacina contra o vírus do tipo 2 da dengue, já que as respostas contra os vírus dos tipos 1, 3 e 4 já se tinham revelado eficazes em ensaios clínicos feitos nos últimos anos.

O novo ensaio envolveu na fase final 41 voluntários que nunca tinham sido infectados por nenhum tipo de vírus da dengue. Destes, 21 receberam a vacina e 20 uma substância placebo. Passados seis meses, todos os voluntários foram infectados por um vírus da dengue do tipo 2 que é muito infeccioso, mas cujos sintomas são leves. Todos os voluntários que receberam o placebo desenvolveram a febre de dengue após serem infectados pelo vírus, mas nenhum que recebeu a vacina teve sintomas da doença.

“As descobertas deste ensaio são muito encorajadoras para nós que passámos vários anos a trabalhar em vacinas experimentais para protecção da dengue”, diz o investigador Stephen Whitehead, do NIAID, citado num comunicado desta instituição. “De facto, os novos resultados apoiaram a decisão por responsáveis do Instituto Butantan, no Brasil, para avançar com um grande ensaio de fase III para testar a eficácia da vacina TV003.” Nestes ensaios, será possível verificar se a nova vacina é eficaz a longo prazo.

De qualquer modo, o que se aprendeu agora está já a ser usado no desenvolvimento de uma vacina contra o vírus Zika. Esta infecção, que se tornou mediática quando atingiu o Brasil em 2015, é causada por um vírus que, tal como a dengue, pertence ao género “Flavivirus” e também é transmitido por mosquitos Aedes. Até agora, não há tratamentos nem vacinas contra esta doença emergente.

Original de África, o vírus Zika atingiu nos últimos meses dezenas de países da América do Sul e da América Central, depois de ter chegado ao continente americano vindo da Ásia, pelo oceano Pacífico. Segundo Stephen Whitehead, o conhecimento que a sua equipa obteve no desenvolvimento de uma vacina contra a dengue com vírus atenuados está agora a ser utilizado para desenvolver uma vacina contra o Zika. Esta infecção, que geralmente não causa grandes problemas de saúde, tem sido associada a um aumento do número de casos de bebés que nascem com microcefalia no Brasil.

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