Uma matrioska na defesa

Castigo de Jardel e lesões de Luisão e Lisandro López obrigam Rui Vitória a mexer no sector mais recuado. Benfica tem vantagem sobre o Zenit na luta pela ida aos quartos-de-final da Champions

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Jogadores do Benfica em São Petersburgo no treino de adaptação ao relvado e ao frio da cidade russa Olga Maltseva/AFP

A segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, contra o Zenit S. Petersburgo (17h, RTP1), surge na melhor altura para o Benfica. Pelo menos no que diz respeito aos resultados, porque passaram apenas quatro dias desde a vitória sobre o Sporting na I Liga, que valeu aos “encarnados” a subida à liderança da classificação. O triunfo em Alvalade reforçou a confiança da equipa orientada por Rui Vitória, mas o treinador viajou para a Rússia com várias dores de cabeça que tem de resolver.

O principal quebra-cabeças de Rui Vitória está no centro da defesa, sector que se tem revelado uma autêntica matrioska: quando Luisão se lesionou, entrou em cena Lisandro López; a indisponibilidade do argentino foi suprida por Victor Lindelöf; e agora que Jardel está castigado, o técnico tem de arranjar uma nova solução. O jovem Rúben Dias, da equipa B, viajou para a Rússia, mas Vitória não esclareceu se vai apostar nele ou adaptar um dos médios defensivos – é provável que seja Fejsa a fazer dupla com Lindelöf.

Sobre os ombros do sueco de 21 anos recai a responsabilidade de comandar a defesa “encarnada”, tendo ele começado como quarta opção para o sector. Lindelöf, campeão europeu sub-21 ao serviço da selecção sueca, começou por ser opção na equipa B do Benfica, sendo utilizado por Rui Vitória apenas na Taça da Liga. Mas desde que entrou na equipa leva seis jogos consecutivos a titular, cinco na I Liga e um na Liga dos Campeões.

As outras baixas na equipa “encarnada” são o guarda-redes Júlio César, que devido a lesão já não alinhou em Alvalade, e André Almeida, que vai cumprir castigo. “O Benfica que vai amanhã [hoje] entrar é campo é uma equipa consciente daquilo que tem de fazer, que acreditará muito no seu trabalho e nas suas capacidades. É fundamental reconhecer que do outro lado estará uma equipa com jogadores de grande qualidade, que vai jogar em casa e quer passar”, sublinhou Rui Vitória, na antevisão da partida.

A determinação do Zenit é suplementar porque, para a equipa liderada pelo português André Villas-Boas, o que está em causa é uma presença inédita nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. “No primeiro jogo [desta eliminatória] o Benfica vinha de uma derrota dura contra o FC Porto. Uma vitória em Alvalade traz um extra de confiança, ainda mais por o Benfica ser líder. Nós vamos estar da mesma forma. Queremos marcar presença nos quartos-de-final”, disse o técnico do emblema russo. O Zenit nunca perdeu em casa contra equipas portuguesas (cinco triunfos e dois empates), somando por vitórias as duas recepções ao Benfica: nos oitavos-de-final em 2011-12 e na fase de grupos em 2014-15.

O Benfica só chegou uma vez aos quartos-de-final nas últimas sete participações na Champions e a história em sete visitas à Rússia contempla apenas uma vitória — foi há quase 20 anos, no terreno do Lokomotiv Moscovo, e os golos de Panduru, Donizete e João Pinto serviram para confirmar a passagem aos quartos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças. Mas há um dado que melhora as perspectivas “encarnadas”: quando ganhou na primeira mão de uma eliminatória nas competições europeias, o emblema da Luz qualificou-se para a fase seguinte em 46 ocasiões, só ficando pelo caminho oito vezes. Se a análise se restringir aos casos em que a vitória na primeira mão foi 1-0, como aconteceu há três semanas graças a um golo de Jonas, há 11 exemplos de apuramento do Benfica e apenas uma eliminação.

Rui Vitória reconheceu que a vantagem obtida na primeira mão é importante, mas rejeitou a ideia de apresentar-se hoje no Petrovskiy só para defender. “O mais importante é sairmos vencedores deste conjunto de dois jogos. Temos consciência que vai haver momentos em que haverá necessidade de defender bem, mas não viemos com o propósito de só defender, porque aí estaríamos muito mais perto de perder. Temos o objectivo de marcar contra esta boa equipa”, vincou.

Do outro lado estará uma equipa com um golo marcado nos três jogos disputados após o final da interrupção de Inverno. “O Benfica tem uma defesa muito equilibrada, que dá poucos espaços. Vamos tentar de todas as formas e feitios. Mas não podemos enfrentar o jogo só ao ataque, temos de ter cuidados contra um dos melhores ataques da Europa”, alertou Villas-Boas, que não pode contar com dois jogadores importantes nas tarefas defensivas – Criscito e Javi García estão suspensos. “As duas equipas terão de fazer adaptações. Mas acho que a importância do jogo vai fazer esquecer tudo isso, todos estão motivados para participar neste jogo.”

Para além da vertente desportiva, o desfecho do encontro também será importante para o Benfica em termos económicos. Os “encarnados” já garantiram 22,5 milhões de euros em prémios desportivos da UEFA, e caso cheguem aos quartos-de-final embolsam mais seis milhões. Um valor a ter em conta dada a probabilidade de o clube vir a exercer a opção de compra pelo avançado grego Mitroglou, avaliada em sete milhões de euros.

A continuidade do Benfica na Liga dos Campeões também terá impacto na pontuação que o futebol português tem na tabela de coeficientes da UEFA. Portugal ocupa o sexto lugar, com ligeira vantagem precisamente sobre a Rússia. O apuramento dos “encarnados” e consequente eliminação do Zenit, único representante russo ainda em prova nas competições da UEFA, permitiria garantir a sexta posição, que oferece três vagas na Liga dos Campeões.

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