Para onde vamos? Não sei, mas vamos a pé

"Time may change me
But you can't trace time" (David Bowie, Changes)

O jornalista, impregnado de uma certa ingenuidade, formulou a pergunta: “Anunciou que o Governo está empenhado em dar origem a uma «nova agenda para o desporto». Quer especificar?” Responde (?) o novel Secretário de Estado da Juventude e do Desporto: “Eu próprio ainda não sei e aquilo que fiz foi definir um método para chegar à resposta”. Qual: “a elaboração e construção de um plano estratégico para o Desporto nacional, que terá um horizonte de 2018-2022”. PIM!

Vamos ajudar o Governo a ultrapassar a sua ignorância?

Em primeiro lugar, há que recordar o Governo que existe um Programa de Governo, texto político que, por definição, deve conter uma “uma agenda para o Desporto” para uma legislatura. Chegados aqui, das duas uma. Ou o Secretário de Estado não participou na elaboração desse programa (é bem possível) ou concorda com a nossa opinião – sempre aqui recordada – que tal texto é um sucessivo copiar de palavras gastas sem conteúdo, formuladas por obrigação formal. Deve ser a segunda que o levou a dizer que ainda não sabia qual ia ser a política desportiva para este infeliz país.

Segunda tentativa de auxílio. Em aula do 2.º ano do Curso de Gestão do Desporto da FMH, dedicámo-nos, todos nós, a analisar o texto constitucional – naquilo que se refere ao desporto – e ainda iniciámos a leitura da Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto (datada de 2007, totalmente fruto do Partido Socialista). Será que a lei fundamental do país (infeliz, mas ainda assim país) e lei básica do desporto, não apresentam um discurso político que permita, com facilidade, marcar uma agenda?

Claro que sim. E se quanto à Lei de Bases, cujo objecto é precisamente definir as bases das políticas de desenvolvimento da actividade física e do desporto (PAM!) houver agora discordâncias, então altere-se a mesma no respeito do texto constitucional.

Não creio que tenha sido efectuada uma leitura da narrativa constitucional sobre o desporto, nem que alguém se tenha dado ao trabalho de mirar a Lei de Bases, textos jurídicos, mas ainda naturalmente políticos.

Se os caminhos adequados não foram seguidos pelo Governo e ele não sabe o que fazer, só nos resta, então, apresentar-lhe uma agenda, enunciando alguns tópicos de política desportiva que, aliás, têm assumido uma natureza perene.

1.º- Não tomar opções de fundo e gerir o status quo; 2.º- Portar-se como os bombeiros: só intervir em caso de fogo; 3.º- Afirmar a tolerância zero pela quadragésima vez, em tudo o que respeita à violência no desporto, mas manter uma ineficácia a 100%; 4.º Dialogar, dialogar muito, o que implica, desde logo, tratar as coisas pelo telefone e não exercer uma fiscalização pública conforme disposto na lei: 5.º- Ter sempre uma comissão ou um anteprojecto, ou pelo menos afirmar uma vontade de que, perante uma crise, já se estava a trabalhar para que não se repitam esses casos; 6.º - Aceitar o maior número de convites, desde logo para eventos desportivos. Estes são alguns dos eixos essenciais para uma estratégia de política desportiva a 4 anos, mas que duram há cerca de 40.

Há, porém, que revelar algum cuidado nas afirmações, não tanto na afirmação da ignorância. O documento estratégico “em construção” vai ser, diz agora o Governo, para quatro anos. Ora, em Dezembro, há dois escassos meses, tal plano, foi anunciado publicamente para um espaço temporal de uma década! PUM! Ou seja, arriscamo-nos a que de dois em dois meses, o Governo reduza o tempo das suas opções, ao ponto de, a final de algum tempo, elas serem quase definidas numa base diária. Isto é, e retomando a nossa oferta, não tome opções de fundo e acabe por gerir o status quo, com mais ou menos êxito.

O Placard já pensou em alargar as suas apostas disponíveis para cobrir situações como esta?

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