Esta viagem é o nosso melhor retrato de família

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— O que é uma casa, Mia? — A Mia, o papá e a mamã. Conhecemo-nos como hoje: de mochilas às costas. Hoje, com mais 20 anos do que aqueles meninos-namorados de escola que fomos, continuamos a encher as nossas mochilas de sonhos. Na mochila que trazemos agora cabem 16 anos de história juntos; cabe a nossa filha e cabem todas as coisas que nos aumentam. Não, não somos ricos (nem filhos de pais ricos), abdicamos de alguns bens materiais, vendemos o nosso carro e pegamos em parte das economias que conseguimos juntar. Tudo porque acreditamos nos sonhos e que esta experiência nos enriquecerá muito mais do que qualquer coisa.? Eu (Miriam) abandonei a carreira académica para abraçar esta escrita de histórias: das viagens (fora e dentro de nós); o Nelson é fotógrafo de profissão, e não lhe falta matéria-prima nesta jornada. A Mia soprou as velas do seu segundo aniversário, com a ajuda do vento quente do Camboja. A curiosidade mora-lhe nos olhos, nas mãos que tocam a terra; nos pés descalços: a cada templo que visitamos. Se há algo que queremos que ela retenha é isto: que a diferença nos traços do rosto, na forma como nos vestimos, como oramos, como falamos, como comemos e no que comemos não nos torna melhores ou piores, grandes ou pequenos, e sei que ela viverá e crescerá com isto tudo enraizado. E é assim que ela já vê a diferença: sem a ver, é sempre mais e maior o que nos une a qualquer outro ser humano do que o que nos separa dele. O corpo, que evidencia as diferenças físicas, será sempre mais do que isso: é lugar onde bate um coração.? Esta viagem é o nosso melhor retrato de família. O que estamos a ver e viver apenas se conta fora das horas, fora do relógio: que paramos para ela, para nós. É um tempo que se conta em histórias, em países, em pessoas, em tradições, em palavras novas, em sorrisos, em tangerinas descascadas pelas suas mãos pequeninas. ?Por isso, o blogue menina mundo é esse lugar de partilha de histórias, é também o livro que lhe passaremos para as suas mãos quando ela for mais velha e quiser reviver a sua história de infância. ?Sabemos que este caminho que escolhemos tem tanto de privilegiado como de arriscado, mas é o nosso caminho e se alguma dúvida tivéssemos essa teria sido desarmada com a definição que ela dá à palavra casa.? Hoje temos menos (coisas), mas hoje vivemos mais, vemos mais, aprendemos mais, conhecemos mais, conhecemo-nos mais e somos mais: hoje temo-nos mais. Miriam, Nelson & Mia