Cancro matou menos pessoas em 2014

Relatório Portugal: Doenças Oncológicas em números – 2015 indica como áreas de intervenção prioritária o cancro de pulmão e o de colo/rectal.

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Continuam “muito significativos” os anos potenciais de vida perdidos por causa da doença Enric Vives-Rubio

Diminuiu a taxa de mortalidade padronizada, isto é, descontando o efeito de envelhecimento da população, por tumores malignos. O número de mortes registadas em 2014 é inferior ao do ano anterior, mesmo no cancro que mais mata em Portugal, aquele que atinge traqueia, brônquios e pulmões.

De acordo com o relatório Portugal: Doenças Oncológicas em números – 2015, divulgado esta quinta-feira pela Direcção-Geral de Saúde, continuam “muito significativos” os anos potenciais de vida perdidos: 19 mil por tumor maligno de traqueia, brônquios e pulmão; 11 mil por tumor de cólon, recto e ânus; 9 mil por tumor de estômago, 4 mil por tumor de pâncreas, por exemplo.

Atendendo ao registo efectuado desde 2011, “a evolução tem sido muito positiva”. Caiu a taxa de mortalidade padronizada, embora continue a aumentar a taxa de mortalidade bruta associada ao diagnóstico de neoplasias malignas.

Emergem como áreas de intervenção prioritária o cancro de pulmão e o de colo/rectal pelo impacto relativo que ambos vão tendo na mortalidade precoce. Os valores mantêm-se altos, apesar da mortalidade por tumor da traqueia, brônquios e pulmão ter diminuído um pouco (passado de 4002 em 2013 para 3927 em 2014) e o do colón também (2724 para 2687).

Outros cancros não dão sinais de inverter tendências. Apresentam aumentos nas mortes associadas, ainda que ligeiros: a mortalidade relativa a tumor de estômago subiu de 2265 para 2290; o da mama feminina passou de 1640 para 1660, e o da bexiga cresceu de 922 para 940, por exemplo.

O relatório chama a atenção para a assimetria regional. Atendendo aos totais, “não existe sobreposição entre incidência e mortalidade, com resultados mais desfavoráveis nas zonas do interior”.

Há mais cancro do estômago no Norte e no Interior, que estará relacionado com hábitos alimentares. A mesma assimetria interior/litoral mostram os dados referentes ao cancro do cólon. E os Açores têm a mais alta taxa de cancro de pulmão do país, cerca do dobro das outras regiões, o que os autores do relatório relacionam com a menor carga fiscal sobre o tabaco.

Comparando com outros países europeus, a mortalidade por doença oncológica está abaixo da média. E isso, segundo o relatório, explica-se com "estilos de vida, exposição a factores de risco, padrões genéticos, acessibilidade e tratamentos e qualidade” desses mesmos tratamentos.

Em termos históricos, Portugal beneficia de um baixo consumo de tabaco, a que contribuirá para o facto de ter a menor taxa de cancro do pulmão e de mortalidade associada da União Europeia. Já no caso do cancro de colo/rectal, Portugal tem uma das taxas de mortalidade mais elevadas. E a isso não será alheio o facto de no país de ser ainda incipiente o rastreio desse tipo de tumor.

“Na globalidade, o serviço nacional de saúde tem conseguido acomodar as necessidades dos doentes, com mais produção cirúrgica e mais tratamentos oncológicos”, conclui o documento. Há “um discreto aumento da mediana do tempo de resposta para cirurgia nas com melhor resposta nos extremos, ou seja, melhoria da resposta global”.

“O aumento da despesa com medicamentos é preocupante, particularmente com os novos fármacos”, indica ainda o relatório. “A necessidade de monitorizar, de forma sistemática, e efectividade terapêutica é indispensável para conseguirmos aferir os ganhos reais em saúde, face ao custo crescente”, remata. 

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