Trump e Clinton cada vez mais perto de vitórias por KO

O magnata do imobiliário continua a sua caminhada que parece ser imparável, e a antiga secretária de Estado voltou a vislumbrar a passadeira para a nomeação que lhe tinha sido estendida no ano passado.

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Hillary Clinton suspirou de alívio Jonathan Ernst/Reuters
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Donald Trump em campanha no Kentucky Chris Bergin/Reuters
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Bernie Sanders no Vermont, onde venceu Spencer Platt/Getty Images/AFP
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Ted Cruz vota no Texas Trish Badger/REUTERS
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Marco Rubio no Minnesota Stephen Maturen/Getty Images/AFP

Era quase impossível que o Partido Democrata ou o Partido Republicano saíssem desta Super Terça-feira com um nome definitivo para a corrida à Casa Branca, e foi isso mesmo que aconteceu. Mas o que também correu conforme o plano foi um domínio esmagador de dois candidatos que já só esperam que o tempo passe o mais rapidamente possível para começarem a concentrar-se apenas um no outro: Donald Trump e Hillary Clinton.

Se o guião das primárias e caucus nos 11 estados que escolheram os seus candidatos na noite de terça para quarta-feira tivesse sido escrito por alguém que não gosta de ver um lutador a sofrer estendido no tapete de um ringue de boxe sem não conseguir levantar-se, a coisa não podia ter corrido melhor.

O que é a Super Terça-feira?

No Partido Democrata, o senador Bernie Sanders quase levou com a porta da nomeação na cara, mas ainda pode acenar com vitórias em quatro estados e com uma bolsa recheada de doações para se manter na corrida; e no Partido Republicano quase todos os candidatos que não se chamam Donald Trump conseguiram sair mais ou menos vivos desta Super Terça-feira – uns mais walking dead do que outros –, cada um deles a cavalo de uma variação muito própria do argumento "perdi mas ganhei".

Mas em primeiro lugar, falemos dos que ganharam mesmo. Sem nenhuma discussão, e de forma tão convincente que os seus adversários começam a parecer aquelas equipas de futebol que andam de máquina calculadora no bolso à espera de uma inesperada reviravolta para voltarem a sentir o significado da palavra esperança.

Fiel à campanha que tem arrasado tudo e todos à sua passagem, o magnata do imobiliário e autoproclamado messias dos furiosos e descontentes, Donald Trump, meteu ao bolso sete dos 11 estados em jogo nesta Super Terça-feira. Em alguns deles, o seu domínio foi tão huge que qualquer plano do Partido Republicano para impedir a sua nomeação começa a soar a um trabalho para os produtores da saga Missão Impossível.

Quem tem medo de Donald Trump, Donald Trump, Donald Trump?

Mais do que ter acabado a noite com o maior número de estados, Donald Trump provou que consegue vencer no Sul conservador mas também no Nordeste mais liberal dominou no Alabama, Arkansas, Georgia, Tennessee e Virgínia, e também lá em cima, perto da fronteira com o Canadá, no Vermont e no Massachusetts.

Trump, o unificador
Em resposta a quem o tem acusado de dividir o Partido Republicano, Donald Trump passou a encarnar uma nova personagem
a do "unificador".

"Expandimos o Partido Republicano", disse o candidato na sua luxuosa propriedade em Miami Beach, na Florida, numa conferência de imprensa mais contida do que o habitual, já à procura do tom mais indicado para um candidato oficial à Casa Branca e realizada no importante estado do senador Marco Rubio, com primárias marcadas para 15 de Março.

"Eu sou um unificador. Adoraria ver o Partido Republicano e toda a gente a unir-se. E quando nos unimos, não há ninguém ninguém que nos consiga bater", disse Trump, dois passos à frente do governador de Nova Jérsia, Chris Christie, que desistiu da corrida à Casa Branca e agora parece correr para a nomeação a vice-presidente.

E Christie fez o seu papel, sem se esquecer de repetir o principal slogan de Trump: "Esta foi a noite em que Donald Trump começou a unir o Partido Republicano para uma grande vitória em Novembro. Esta foi a noite em que Donald Trump começou a unir o povo da nossa nação para ajudar a América a voltar a ganhar." A posição de Christie em relação a Donald Trump tem sido muito criticada, tanto em termos metafóricos como literais – muitos criticam a sua mudança de opinião sobre a candidatura do magnata e outros não perdoaram a sua embaraçosa posição como fiel escudeiro de Donald Trump durante o discurso da noite de terça-feira.

Como os 595 delegados que estavam em jogo no Partido Republicano foram distribuídos de forma proporcional, e são necessários 1237 para garantir a nomeação, as vitórias de Trump não lhe deram uma vantagem definitiva. Mas, à medida que as primárias vão subindo para Norte, é cada vez mais difícil que o senador Ted Cruz  nome forte entre os ultraconservadores  comece finalmente a representar uma ameaça séria, apesar de nesta Super Terça-feira ter garantido a vitória no seu estado do Texas de forma convincente. Se nem no Texas tivesse vencido, Cruz poderia estar agora a anunciar o fim da sua corrida.

Quando se diz que quase todos os candidatos que não se chamam Donald Trump acabaram por sair mais ou menos vivos, é porque quase todos eles corresponderam aos mínimos que deles se esperava excepção feita ao antigo neurocirurgião Ben Carson, cuja campanha é já um mistério quase tão grande como as pirâmides do Egipto, que segundo ele foram construídas por José, filho de Jacó, para armazenar cereais.

Ben Carson, das pirâmides do Egipto à escravatura do Obamacare

Para além do seu Texas, o senador Ted Cruz venceu no vizinho Oklahoma, no Alaska e terminou em 2.º lugar em quatro estados: Alabama, Arkansas, Minnesota e Tennessee. Este conjunto de resultados levou-o a tentar empurrar o senador Marco Rubio para fora da corrida, apelando ao eleitorado que não quer ver Donald Trump nem pintado o problema para Cruz é que muito desse eleitorado, que agora vota em Rubio e no mais moderado governador do Ohio, John Kasich, também não morrerá de amores por um candidato cujo principal trunfo é acusar Donald Trump de não ser suficientemente conservador.

"Amanhã de manhã temos de fazer uma escolha", disse Ted Cruz no seu discurso, em Stafford, no Texas, referindo-se ao dia seguinte à Super Terça-feira. "Enquanto o campo continuar dividido, o caminho de Donald Trump para a nomeação é cada vez mais provável, e isso seria um desastre para os Republicanos, para os conservadores e para a nação." Repetindo o que tem vindo a dizer desde a sua vitória na primeira votação, no estado do Iowa, Cruz disse que ele é o único candidato "que venceu, que pode vencer e que vai vencer Donald Trump".

O problema é que Ted Cruz discursou um pouco antes do tempo, e o senador da Florida, Marco Rubio, acabou por lhe roubar o estado do Minnesota, alcançando uma primeira vitória nestas primárias que o mantém à superfície pelo menos até 15 de Março, quando o seu estado for a votos. Nesse dia, o Partido Republicano começará a entregar os delegados em jogo apenas ao vencedor de cada estado, e não de forma proporcional, o que dará uma nova dimensão a cada vitória. Mas a noite de Marco Rubio acabou por ficar apenas um degrau acima de um autêntico desastre, e agora só mesmo um regresso em grande a 15 de Março poderá salvá-lo para além de ter vencido no Minnesota, o senador da Florida só conseguiu terminar em 2.º na Georgia e na Virgínia.

Até o governador do Ohio, John Kasich, encontrou justificações para se manter na corrida por mais algum tempo, ao terminar em 2.º no Massachusetts e no Vermont. Mas está cada vez mais sob pressão para desistir o mais rapidamente possível a esperança da ala tradicional do Partido Republicano é que os seus votos se transfiram para Marco Rubio, e o medo é que a sua permanência na corrida ponha em causa as necessárias vitórias do jovem senador em estados como a Florida e o Ohio a 15 de Março, onde estão em jogo 165 delegados.

Hillary regressa ao caminho da "coroação"
No lado do Partido Democrata, Hillary Clinton confirmou o seu domínio nos estados do Sul, onde são as minorias que desequilibram as contas. Em estados como o Alabama, Arkansas, Georgia, Tennessee, Texas e Virgínia, Clinton quase anulou Bernie Sanders a única vitória tangencial foi no Massachusetts, onde a candidata teve 50,3% e o candidato 48,5%.

Mesmo assim, e tal como Donald Trump, Hillary Clinton ainda não pode concentrar-se apenas nas eleições gerais, por muito que o seu discurso já aponte nessa direcção. "A América prospera quando todos nós prosperamos. A América é forte quando todos nós somos fortes. Sabemos que temos muito trabalho pela frente, mas o objectivo não é tornar a América grande outra vez. A América nunca deixou de ser grande. Temos de tornar a América um país completo, temos de preencher o vazio que ficou", disse Clinton, que também discursou em Miami, tal como Donald Trump.

Mas o senador Bernie Sanders ainda conseguiu escapar entre os pingos da chuva, com uma vitória esmagadora, mas já esperada, no seu Vermont (86,2% contra 13,6%) e vitórias no Colorado, no Minnesota e no Oklahoma. Estes prémios somam-se à fortuna que o senador tem angariado em pequenas doações para o manter na corrida por muito tempo, nem que seja apenas para continuar a reforçar as suas ideias mais progressistas – de forma reveladora, Sanders não deu nenhuma indicação no seu discurso sobre a sua estratégia para as próximas votações.

Depois das boas prestações no Iowa, no New Hampshire e no Nevada, a pesada derrota na Carolina do Sul, no fim-de-semana, pode ter marcado o início do fim do sonho de Bernie Sanders, mas também ainda não foi desta que Hillary Clinton conseguiu enterrar definitivamente o pesadelo da sua desilusão em 2008, quando perdeu a nomeação para Barack Obama. Apesar disso, a candidata pôde suspirar de alívio esta terça-feira, e voltou a vislumbrar a passadeira para a inevitável nomeação que lhe tinha sido estendida antes de o furacão Bernie Sanders ter atingido a categoria de fenómeno.

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