Dentro do campo

Não deixa de ser uma obra curiosa, com um actor notável (Geza Rohrig), mas a aposta numa relação forte entre campo e fora de campo perde-se à força de tão sistemática e maquinal.

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Não há tema mais cheio de interditos do que o da representação dos campos nazis, e Laszlo Némes parece ter a consciência deles. Daí que o O Filho de Saul deixe esta impressão de esquizofrenia: é um filme que quer “representar” sem “mostrar”, fechando sistematicamente o campo de visão em torno do rosto dos actores (em particular do protagonista, Saul), como um grande plano permanente e em constante movimento, e deixando o resto (o “horror”) entre o invisível e o “flou”. Não se nega uma certa eficácia dramática deste procedimento, mas ela tem um alcance curto – é o tempo da primeira sequência, enquanto o espectador ainda não sabe que aquele modo (quase “dardenneano”) de a câmara se agarrar ao rosto do protagonista vai ser a norma do filme. A partir do aí tende a ser apercebido como um procedimento ostensivo, que tem o efeito, talvez contraditório, de salientar a representação, quer dizer, um virtuosismo de mise en scène, que cansa e suspende a crença do espectador. Não deixa de ser uma obra curiosa, com um actor notável (Geza Rohrig), mas aquela aposta numa relação forte entre campo e fora de campo perde-se à força de tão sistemática e maquinal. 

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