O Fine Gael, o PP e o PSD

É um filme cuja antestreia aconteceu em Outubro em Portugal, se estreou em Dezembro em Espanha e agora é exibido nas salas irlandesas. É uma película que conta a história de umas eleições em que o partido/coligação que nos últimos anos aplicou uma forte dose de austeridade perde imensos votos, não obstante, ganha as eleições, não conseguindo entretanto uma maioria que lhe permita governar. É a história do PSD-CDS/PP em Portugal, do PP em Espanha e, com base nas sondagens à boca das urnas, será também o destino da coligação Fine Gael/Labour que nos últimos anos governou a Irlanda.

Os números preliminares na Irlanda mostram, tal como aconteceu em Espanha, uma grande martelada no bipartidarismo (o Fine Gael e o Fianna Fáil juntos não devem chegar aos 50%), com uma grande dispersão de votos por partidos de protesto mais pequenos, por independentes e com uma subida do Sinn Féin de Gerry Adams. Tal como aconteceu na Península Ibérica, esperam-se semanas de negociações para garantir a governabilidade do país, com vários cenários em cima da mesa – de uma grande coligação entre o Fine Gael e o Fianna Fáil a novas eleições.

Aqui chegados, na Irlanda, em Espanha e em Portugal procuram-se respostas para duas perguntas. Porque ganharam os partidos pró-austeridade? E porque não conseguem governar os partidos pró-austeridade?

A resposta terá que ver com as idiossincrasias políticas de cada país, mas haverá com certeza algum ponto em comum que possa ajudar a explicar o fenómeno. Em Portugal, a economia saiu da austeridade a crescer ligeiramente, em Espanha a crescer razoavelmente e na Irlanda a disparar uns espantosos 7%. E, mesmo governando a economia europeia que mais cresce, Enda Kenny não conseguiu evitar o destino de Passos Coelho e de Mariano Rajoy. Qual será a explicação? Nos últimos dias de campanha, o Fine Gael reconheceu que a dita “recuperação” “ainda não está a ser sentida atrás de cada porta”. E, como dizia à Reuters um eleitor em Dublin, “não existiu recuperação para 30%-40% do país”, rematando com um “it's a rich man's recovery”. É uma explicação plausível. O discurso mais simpático das oposições às alternativas à austeridade não convenceu muitos, mas a austeridade também deixou muitos pelo caminho. Muitos que na Península ibérica e na Irlanda ainda hoje continuam a não sentir a tal “recuperação” no bolso.

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